lunes, 23 de abril de 2018

UMA SEMANA COM OS BOÊMIOS (1)


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Em plena segunda-feira a malandragem não sossega no Botequim do Terguino Ferro. Todo mundo desempregado, se salva o Bruno que tem uma pequena gráfica onde imprime elogios à quadrilha do vampiro e aos bostas do RS, como ele diz, além do Aristarco que é aposentado, embora a grana da aposentadoria só lhe permita tomar pinga e jamais ir à praia, ele ama praia, salva-se porque tem um barraco próprio na Rua do Arvoredo.

A turma em altos papos hoje pela manhã, em meio a caipirinhas e lisos, o Bruno já entornando dyabla-verde, o absinto caseiro, cachaça em conserva de losna para quem não sabe. Eu quietinho numa caipirinha de vodka com uma folha de hortelã dentro.

Depois de cansarem de xingar o técnico do Inter - nesta ajudei, de questionarem quem ainda não transou com a mulher daquele gerente de banco (entrou até mulher de juiz no meio, uma temeridade), passaram para a política.

João da Noite propôs que a gente profira umas palestras para certos juízes e procuradores, que agora são políticos, ele é amigo de uma juíza e acredita que ela nos apresente para as associações das facções dos caras, deve haver associação informal, pois trabalham afinados, aí a gente vai lá a convite.

O evento se chamaria "Uma semana com os boêmios", e teria ampla divulgação da imprensa falada e escrita, com transmissão direta da TVT e da Mídia Ninja pelo youtube e pelo facebook. Uma palestra por noite.

Proposta aceita por unanimidade das mesas e dos caras em pé encostados no balcão. Mãos à obra para selecionar os palestrantes e os temas a serem apresentados à juíza que seria intermediária na organização do acontecimento: uns camaradas espertos e temas úteis, que cobrissem fragilidades das gangues de nobres profissionais do Direito.

Considerando idade (não necessariamente), corrida pelo chão do mundo, olhos vermelhos, brabeza e tal, a turma escolheu, pela ordem, Aristarco de Serraria, João da Noite, Luciano Peregrino, Wilson Schu... aqui o Bruno Contralouco esperneou: "Ué, não vão me escolher? Sou o Rei da Cidade Baixa, pombas!". A turma riu e o Portuga falou que só estavam judiando dele. Foi o próximo.

Acrescentaram o Nicolau Gaiola, o ator da turma, e ficou faltando um. Mr. Hyde, Gustavo Moscão, Cícero do Pinho e outros pediram pelo amor de Deus, me incluam fora dessa. Jezebel do Cpers se retirou para outra mesa reclamando de machismo, sentiu que não seria escolhida, bem feito, quem mandou votar na quadrilha do Gringón. 

Pensaram, pensaram... Doutor Alex e Adolfo Dias Savchenko impossibilitados, estão morando em Buenos Aires. Os nossos uruguaios Carlito Dulcemano Yanés e Juanito Díaz Matabanquero nem pensar, o primeiro assaltou outro banco na Av. Paulista e está escondido no Rio de Janeiro, o segundo por razões impossíveis de declinar, pois logo haverá o estouro da boiada. 

Aconteceu o que eu temia: sobrou pra mim. Aceitei meio sem jeito, para não deixar mal os amigos.

Passo seguinte a escolha dos sete assuntos, que seriam sorteados entre os sete palestrantes. Como ali, segundo a turma, quem corre menos voa, o nego encara o tema que vier.

Cogitaram duas dezenas de assuntos, espremeram e saíram os sete, pela ordem:

- A mentira
- A putaria
- A vingança
- O orgulho
- A traição
- A vergonha na cara
- A covardia

Ao sorteio. Sete papeizinhos embolados no chapéu do Negrote, o velho morador de rua que é os olhos do Gustavo Moscão lá fora, para a eventualidade de passar algum pastor da Universal, nesse caso o Negrote corre avisar e o Gustavo, ex-boxeador, vai lá e quebra a cara do sujeito. Cada papelzinho com o assunto escrito, claro.

Aristarco tirou “A traição”, João da Noite “A vergonha na cara”, Luciano Peregrino “A mentira”, Wilson Schu “O orgulho”, Bruno Contralouco “A vingança” (vibrou em urros, era só o que ele queria), Nicolau Gaiola “A covardia”, e eu não precisei tirar, a turma abriu por abrir, por exclusão peguei “A putaria”.

Vou-me dar bem ensinando aos palhaços algumas noções de putaria além das que conhecem no seu trabalho. Oba!

Depois de mais uns tragos saí do bar e vim pra casa. Ao chegar já tinha em mente o gran finale da minha palestra: salão de atos com as luzes sendo reduzidas, eu emocionado proferindo o ápice da minha fala, que resumia tudo o dito antes, e inundando o ambiente a música de Toquinho e Vinícius: "Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais mas sabe menos do que eu...", os facínoras com as bundas coladas nas cadeiras, não acreditando no que ouviam, uns distraídos começando a aplaudir, esses tem conserto, se se arrependerem. Urrú!

(segue)
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