Saí da minha rua, a Octavio
Correa, subi a Olaria e caí na Av. Venâncio Aires, ainda nos limites da Cidade
Baixa de Porto Alegre. Ia ver um negócio de grana, tava duro, sem cigarros e
sem bebida em casa.
Levei uma hora, parando a
todo momento, papo com comerciantes menores, lixeiros, as molecas que se viram,
os viados, os catadores... em direção a uma loja de conveniência no posto da
João Pessoa com a Venâncio, ver o saldo bancário, lá tem um troço de caixa
eletrônico sem sacanagem. Sem sacanagem até aquele momento, convém examinar
antes de enfiar o cartão.
Sacanagem é o preço da
cerveja e de tudo o que aqueles filhos da puta vendem, não compro nada lá,
salvo em horas de desespero. Bom, cheguei lá, meti o cartão, digitei a senha da
CEF me-da-cu e saiu o papelzinho: R$ 0,45, nada de me dá, eu que tomei no cu.
Tou fodido e mal pago, e
agora? Voltei cabisbaixo pela Venâncio, pensando seriamente em assaltar aquela merda
de agência do BB lá na Azenha. Ia passando no puteiro 305 da Venâncio e uma
mulher me atacou:
- Tu é o Bukowski da Cidade
Baixa, né?
Pobre do Bukowski, vitimado
por tal comparação.
- Depende, gringa, para
pagar ou receber?
- Não, li um conto teu uma
vez, se chama Brisa.
- Hummm, é, fui eu que
cometi. Tu se vira nesse cabaré aí?
- Tou me virando, sim. Vamos
tomar uma cerveja, queria conversar contigo, aquele conto me emocionou, meu pai
era trabalhador de levar saco nas costas... Sou a Maria da Lua. Se tu puder,
né, não quero incomodar, teus compromissos, literatura...
- Saí sem dinheiro, Lunera,
se não iria com amor e carinho junto contigo, tu é linda e gostosa, nunca vi
mulher mais bonita, amo peitão grande assim... Tu gosta de tudo?
- Gosto de tudo. Mas não se
preocupe, eu tenho dinheiro, vamos, vai...
- Topa tudo mesmo?
- Tudo.
Gostei dela. Tive uma
abobada que topava tudo com qualquer um, até chupar dentro de carro, atrás de
árvore, e me dizia que topava só comigo.
- Qual é a tua tarinha?
- Ai, muitas, tudinho, amo
vela quente pingando e dupla penetração, mas tem mais...
- Tarada, eu amo ménage. Tu
tem alguma amiga de fé?
- Tenho.
- Pegadeira boa?
- Bota boa nisso. Vou
combinar com ela, se tu quiser. E tu, tem namorada?
- Não tenho mais.
- Por quê? Tu tá bonitão.
- Essas mulheres são tudo
cheias de preconceito, cansei, deixa pra lá.
- To falando contigo há
poucos minutos e sabe de uma coisa: gostei de ti, cara.
- Tá, eu também gostei de
ti, então vamos de mão tomar uma cerveja lá na Olaria, longe da tua viração?
- Tem um cara lá na Olaria
que anda me perseguindo, eu era muito nova e me dominou, não deixava eu
estudar. Agora que tou na PUC voltou a incomodar. Se ele falar comigo não se
meta, não vale a pena, deixa que eu resolvo.
- O que faz na PUC?
- Direito. Um dia vou ser
delegada, pegar todos os colas-finas que sempre ficam impunes.
- Oba, siga dedicada nos
estudos, vai dar tudo certo.
- Tu é o primeiro que me diz
isso, todo mundo diz que depois, por dinheiro ou de medo, entro pro esquema e
só prendo pobre.
- É assim mas não é bem
assim, tem pessoas boas lá. Lembrei de uma coisa, antes vamos dar uma
passadinha no meu covil, pra mim me vestir decente, sapato, calça, camisa e
paletó.
- Vai pegar arma, né, por
causa do cara que falei antes?
- Vou, e não fale nada. E
tem outra: não estou sem dinheiro aqui, por estar de tênis e bermuda, na verdade ando
morto e a corvada em roda, tem nada em casa, tou sem nenhum, nem pro cigarro.
- Oba, então arranjei um
gigolô armado. Tenho dez mil no banco e vou tomar mais desses palhaços que vem
ao cabaré, por serviços prestados. Sinto que tu me pagará em dobro, de um jeito
ou de outro.
Guria corajosa e
inteligente. Peguei na mão dela, cruzamos os dedos, torcendo, quentes, bem
felizes, e saímos andando pela avenida. Noite linda em Porto Alegre, tomara que chova mais tarde.
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