sábado, 14 de abril de 2018

Cidade Baixaria

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Quatro da matina, estourou o cabaré, a lenga vai até às seis ou seis e meia, como sempre, de domingo a domingo, de janeiro a janeiro. Nunca vou entender isso, sou do tempo em que se é pra brigar, brigamos já; se é pra dar um tiro de matar é sem frescura, toma fiadaputa, bum, acaba logo a engresilha.

Fechou o tempo na Cidade Baixa, dezenas de senhores e senhoras brigando a socos no meio da avenida Venâncio Aires, que acaba repercutindo aqui na Octávio Corrêa, os vermes se espalham naquela de bate e assopra, tapinha e corre, pedindo me segure se não eu mato... acabam aqui na esquina. Mais gritos do que socos, em vez de se matarem logo ficam de gritacéu. A negada não sabe beber, ou o tal bar vende algo mais do que bebida.

"Na buceta da tua vó", gritou agora uma elegante senhorita, o nenê da Maria Joana, a Mexicana, começou a chorar lá no quarto. A oponente lá fora, também elegantemente, revidou com "No cu do teu pai, vadia". Agora foi o nenê da Sybille do Haiti que começou a berrar. Meus filhos, se elas não me mentiram.

O velho do andar de cima, que está desenganado, nas últimas, saiu do hospital para morrer em casa, se sentiu mal, a Judite de Canoas e a Jacira de Uruguaiana, mais umas que não vi, subiram lá dar uma mão pra família, gritei me chamem se precisar. Eu aqui na salinha do covil ouvindo, anoto os impropérios, palavrões, alguns eu nem conheço.

Um educado jovem bota música sertanoja goiana no carro, portas abertas, em volume setecentos, as paredes dos prédios estremecem, os moradores dão um pulo de susto. A canção de notas malfeitas tem sangue e chifres na letra. Um bom gosto à toda prova.

Amanhã ao sair andando pela calçada muito cuidado para não pisar em latas, garrafas, dentes quebrados, calcinhas sujas, poças de sangue. Cenas dignas de um quadro, uma beleza. "Guernica tupiniquélis", como sugeriu o amigo Petracco e emendo aqui.

Dia destes para me divertir jogo um molotov no cabaré que se diz bar de onde saem. Talvez dê cinco tiros no dono do muquifo que os embebeda sem advertir pra irem embora ao fechar. Ou o grudo na parede com a doze do Rubem Fonseca. Pessoas maldosas dizem que o elemento distribui propina para policiais militares e para a fiscalização da prefa. Explodindo o seu paraíso talvez compreendam o direito de bebês, crianças, velhos, enfermos, trabalhadores, dormirem um pouco.

Parabéns ao Mr. Boate Kiss, nobre Secretário de Segurança Pública. Parabéns ao prefeiteco pleibói. Com saudades os habitantes lembram que o último PM que foi visto nas cercanias remonta há uns dez anos, Alguém diz que viu uns num carro verde há quatro anos, quando vieram escoltar o dono do muquifo até chegar em casa com a féria do dia, denunciou à corregedoria e não deu nada, mas pararam de escoltar o sujeito em carro oficial pago com o nosso, agora vão de carro roubado.

Que eu saiba a função dos servidores públicos da segurança é proteger banqueiros e espancar professores e outros bichos em manifestações pacíficas. Alguns prendem e espancam pobres vendedores ambulantes, apreendem a mercadoria, para proteger o comércio graúdo. Parabéns a todos os envolvidos, muito justos.

A dor que sinto é quando penso que essas pessoas, divergentes e canalhas exploradores, votam, daí que temos o que temos na condução dos nossos destinos. Vou propor aos ilustres edis a alteração do nome do bairro, para Cidade Baixaria.

Pensei em Porto Triste para a capital, óbvio demais, deixo em aberto, aceito sugestões.

Será que fecharemos, todos da esquerda e centro-esquerda, mesmo de centro, em torno de um nome que nos represente para botar ordem no cabaré? 

Quem sabe tu encara novamente, nobre companheiro Olívio? A cidade e o estado estão, literalmente, caindo aos pedaços em roubo, buraqueira, destruição total, moral e econômica.

(Bonito é assim, como na imagem, como éramos antes, até o horário permitido, sem fascistas à solta)
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