Sou bobinho pero nem tanto, então não guardo papéis da vida
profissional em casa. Muitos deles perigosos, digamos. Aqui podem encontrar
centenas de contos mal ou bem acabados, nada mais. A papelada perigosa está
distribuída por aí em muitos lugares, muitas cópias, milhares de papéis,
dezenas de caixas. Prevenção daquela bobagem de se algo me acontecer eles se
fodem. Os originais estão parte num cofre em outro estado da Federação, outra parte em outro cofre em Montevideo.
Hoje ao meio-dia saí da Cidade Baixa, dei voltas de despiste
indo a Teresópolis, mania de perseguição, mas eles são otários, há meses
percebi que me seguem. Levaram o drible lá na Vila Cruzeiro, saí deitado dentro
de uma fubica de uns assaltantes de banco meus amigos.
Ali pelas três da tarde estava dentro de um barco indo para o
Arquipélago. Rever uns documentinhos antigos que envolvem até o pescoço um
gaúcho ladrão da quadrilha do Temer. Há anos não via a nega velha que guarda,
só lhe mando uma graninha trimestral, ano passado nem mandei, desamoroso. Levei
hoje, junto com as rosas amarelas e brancas.
Estou lá vendo os documas, tomando uma cerveja que a neguinha
velha comprou no bolicho, e de dentro de uma mascada caiu um cheque de um tal
Banco do Progresso S. A., agência de Cuiabá, nominal a mim. "Dois mil seiscentos e cincoenta
cruzados novos", datado e assinado em 29 de novembro de 1989.
Na dureza que ando caí pra trás. Hoje essa grana, com
correção pela merreca da poupança dá mais de vinte mil contos, pela inflação
real uns cinquenta, por que diabos na época não descontei o cheque? Vá lembrar.
O emitente, amado, ainda é meu credor por outras desta vida.
Botei o cheque de volta no meio dos papéis, fica de
lembrança. Pedi para a netinha de 14 anos da nega ir lá adiante tirar vinte
xerox. Fiquei mais duas horas na ilha, tomando cerveja e relembrando com a
negada os velhos e bons tempos.
Voltei de barco com os documas dobrados no bolso interno do
casaco, com estes o "Fodão" da Odebrecht se fode comigo.
Meu Deus, como é lindo o Rio Guaíba.
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