Certa vez, menino de uns
oito ou nove anos, aprontei uma.
O querido Pico, primo do
Pato e filho do seu Borges, também menino, andava num cavalo maravilhoso,
enorme, ficava lá em cima, com arreios de atleta de corrida.
Eu vinha da casa do tio
João, fui lá e o primo Edilson não estava, não tinha ninguém, só a tia lá
dentro, e o encontrei ali pela altura onde morava o seu Nelinho, no lado de lá
do estádio do Palmeirense.
Uma discussão boba qualquer,
de moleques, que eu não tinha cavalo ou sei lá, e eu disse então esperaí.
Voltei na casa do tio, fui
no galpão e pé ante pé roubei uma égua super ligeira que ele tinha. Saí com ela
devagar para não acordar os gansos.
Lá fora montei em pelo, sem
freio, apenas enrolei uma corda na cara da égua, e fui disputar a corrida com o
cavalão do Pico.
Da esquina onde morava o
tio, para onde voltamos para dar a partida depois de combinar as regras lá na
frente da casa do seu Nelinho, até o clube União Operária, era um retão
daqueles.
Um perigo aquilo: rua com pedras, irregular, com buracos, nunca foi pista de
corrida, se o cavalo ou égua pisassem mal ficariam aleijados, o sacrifício seria inevitável.
Largamos. Lá pela metade em
alta velocidade perdi o controle da égua desenfreada, a corda que servia de bridão
não adiantava e larguei, quase voei de cima dela, "louco pra se matar".
Perdi por una cabeza, o Pico
era ginete, e teimava que foi por meio corpo, a minha montaria foi parar uma quadra depois do União. Pouca prática eu, larguei atrás,
quando vi ele estava uns dez metros à frente. Como diz o Edilson, que conhecia a
égua, que era um espanto de veloz, ele puto da cara comigo: "Aquela até
maneada ganhava do pangaré do Pico".
Anos depois o Pico ficou meu
camarada para sempre, afinal tínhamos feito arte juntos. Eu agradeço aos céus
por não ter morrido, em pelo e sem estribo, me segurando nas crinas da égua.
E o inocente aqui achando
que o tio não ficaria sabendo. A rua inteira vendo a corrida, com um piá de
juiz para dar o sinal de partida, outro juiz para julgar a chegada na esquina
do União, um bando de piás na torcida, ora se alguém não iria contar para os
mais velhos.
Não sei por que, mas não
apanhei em casa depois, o tio e o pai no fundo estavam mais brabos porque
perdi, mas o que ouvi de recriminações... melhor se tivesse apanhado.
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