viernes, 24 de marzo de 2017

Paz para o Brasil

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(Da série "Conjuminando" - rascunhos)

O Brasil começa a reagir a alguns procuradores e juízes?

Na cidadezinha do interior o candidato a prefeito, bom homem mas que não se dava bem com as letras, foi ler o discurso escrito pelo pensador do partido - homem culto, lá no palanque, cheio de palavras difíceis. Leu gaguejando a primeira linha e desistiu, ficou meio sem saber o que fazer mas logo soltou: "Óia, gente, vou ser curto e grosso: eles querem ó em nóis (fez o gesto característico com os dois braços), mas nóis é que vamos ó neles!" A massa foi ao delírio, falou a linguagem do povo.

Política é fogo. Todos, sem exceções, candidatos a ou exercendo mandato majoritário, são acusados de tudo pelos seus adversários, vai bomba daqui, vem bomba de lá. Faz parte do show, sem provas lá vai de ladrão para cima. Os cabos eleitorais espalham que o adversário é viado, é corno... Que desviou tanto não sei onde. É a luta política.

Mesmo os inimigos políticos não levam muito a sério as ofensas em campanha, terminou e daqui a pouco estão tomando seu uísque juntos e rindo das histórias. Evitam ser muito calorosos em público apenas. Calorosos sim em momentos sérios, como FHC na cerimônia de despedida da D, Marisa Letícia, emocionado abraçando Lula.

Não que sejam amigos fraternos, mas muitos se conhecem, até se querem bem. Já que citei FHC, quantas e quantas vezes estiveram no mesmo palanque pelas Diretas e outros movimentos? Por anos e anos, perderam a conta. Outro dia FHC foi depor como testemunha do Lula num processo bobo desses que lhe moveram: foi preciso em suas palavras, destruiu a acusação que era imputada ao Lula quanto ao acervo de bens de ex-presidentes, FHC tem o seu.

Certa vez eu e muitos caímos de pau no Lula por um abraço no Maluf. Numa coligação estranhíssima em São Paulo, acabaram no mesmo palanque. Quando fecharam o acordo posaram para fotos, aperto de mão, parece também um abraço ou meio abraço. Pronto, estragou tudo.

Caímos de pau não pelo aperto de mão e abraço, pelamor, claro que não, e sim porque foi em público, foi fotografado, um bruto erro político. A coligação já tinha sido um terrível equívoco no nosso modo de ver.

Por que "inimigos políticos"? Voltemos a FHC-Lula. Ambos foram presidentes, ambos governaram para todos os brasileiros. A diferença é a visão de mundo: FHC governava mais para os ricos, e Lula mais para os pobres, em resumo é isso, com as consequências daí derivadas, e estas não são poucas. No caso de Lula, a ideia era um dia chegar a governar para todos sem destinar mais recursos para nenhum, não teríamos essa distância tão grande entre ricos e pobres.

Claro, é possível que com um extremista como o Bolsonaro talvez o Lula não tomasse um uisquinho. Nem o FHC. Ou tomariam, depende.

Ladrão? Isso por mais que controle sempre tem, em qualquer governo. Tem nego que qualquer que ganhe sempre está lá, consegue uma boquinha e mete a mão. Quando há coligações, então, onde o sujeito tem que dar a CEF ou outras entidades para o coligado administrar...

O sistema politico, com financiamento de pessoas jurídicas, só louco para não ter ciência de que rola propina, ora, "doações", é investimento, empresa não dá nada sem pedir algo em troca. Aí vira mesmo um cabaré.

Agora, outra coisa, muito diferente, é dizer que o presidente roubou. Citei Lula e FHC, como poderia ter citado Itamar, porque os julgo homens, não esses alguns de escalões inferiores que acabam se lambusando. Não tem como impedir, o que se pode é tentar minimizar.

Outra coisa é a política invadir a justiça, e os operadores do direito agirem como cabos eleitorais ou por razões pessoais. Sem provas quem vai te julgar partir para o ataque como se fosse inimigo mesmo.

Não tenho provas de nada, mas convicções (porque eu quero me livrar dele). Mandar a polícia remexer no lixo da família, procurar recibos da mercearia, de quanto custou o pedalinho de quatro ou cinco mil reais, da quota de um apartamento, rapto de notebook, incomodação para terceiros, procurando um motivo, e não encontram. Vazamentos muito seletivos, perseguição desvairada. Como costumo dizer: se o Lula cuspir na calçada leva um "Teje preso".

Estou à vontade, o que critiquei o Lula como político e governante não está no gibi, descendo o malho mas críticas que pensei construtivas.

Sérgio Moro em uma entrevista concedida pela UFPR afirmou em tom irônico: ” De acordo com a constituição mesmo que Lula esteja preso ele poderá se candidatar a presidência, mas se for preciso eu mudarei a constituição só para que isso não aconteça, afinal pelo povo brasileiro que esta lutando comigo, Lula não irá ser presidente nem aqui e nem em lugar algum”.

Dallagnol: Lula "até maio estará preso". Lula é "um general em crime de guerra". Lula "pratica crimes a partir de seu gabinete".

Isto e muito mais, como a coação para delações, tudo registrado, seria presunção de inocência? Não mesmo, presunção de culpa, morre aqui todo e qualquer processo se nas mãos dessas pessoas. Se querem destruir o Lula, como poderão julgá-lo? Não mesmo, ainda que a Corte de Haia (Tribunal Internacional de Justiça) tenha que ser chamada a intervir.

Acabou, até porque autoridades e a própria população começam a enxergar e pensar "Se faz com ele poderá fazer comigo ou com um filho meu". É ódio contra uma pessoa, nada mais, por motivos que nada tem a ver com a Justiça.

Que os operadores da justiça façam o seu trabalho, sem alaúza, não tirem a paz da nação. Artista é no teatro, no show musical, na novela. Na campanha política os políticos por um tempinho serão também uma espécie de artistas declarando as suas propostas.

A paz se foi, mas isso se deve mais a empresários e à Rede Globo, o STF também tem contas a acertar com o país. Não sei como poderemos resolver algo tão grave.

"No dia 10 de dezembro de 1948, a Assembléia Geral das Nações Unidas adotou e proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos cujo texto, na íntegra, pode ser lido a seguir...
(...)

Artigo X

Todo ser humano tem direito, em plena
igualdade, a uma justa e pública audiência
por parte de um tribunal independente e
imparcial, para decidir sobre seus direitos
e deveres ou do fundamento de qualquer
acusação criminal contra ele.

Artigo XI

1. Todo ser humano acusado de um ato
delituoso tem o direito de ser presumido
inocente até que a sua culpabilidade tenha
sido provada de acordo com a lei, em
julgamento público no qual lhe tenham
sido asseguradas todas as garantias
necessárias à sua defesa.
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