Esclareça-se, por dever de
honestidade, que não entendo bulhufas de pragas, salvo noções das pragas do
Boca Santa, para quem recentemente pedi que rogasse por uns falecimentos de
golpistas, o que não vem ao caso.
De praga sei apenas de lagartas e outros bichos que são combatidos com toneladas de produtos tóxicos com que os agrojestes, ávidos por desmesuradas
fortunas, depois de derrubarem as florestas, contaminam as plantações, em
conseqüência rios e tudo, não importa se ao preço da destruição do meio
ambiente, para não falar num cancerzinho amigo aos consumidores da sua
produção.
Quando meninos, turminha de nove ou dez
anos, a gente chamava aos gringos, que vinham de longe para plantar soja em
nossos rincões, de granjestes. Granjeste foi invenção do Tomás: uma mistura de
granjeiro com cafajeste. Isto porque derrubavam nossos capões, matinhos e
matões que existiam desde sempre, onde éramos os tarzans, donos da floresta em
longas incursões, por vezes dormíamos no mato ao som das aves noturnas, fogo
aceso.
Havia também certa inveja de
algo que não conhecíamos, pois eles arrendavam terras, arranjavam máquinas,
suavam a camisa e logo ficavam ricos, e a gente naquela maleza.
Daí se depreende o que
significa agrojeste. A praga, pensando bem, não é o bichinho na planta, muito menos o produto
tóxico, este é mal utilizado. A praga é o agrojeste. Isto até onde sei, e sei
nada.
Tenho notícias de assassinos
que vieram matar nossas florestas para plantar o rentável eucalipto, mas
esses vieram depois.
Não sei porque fiz essa
volta toda, pois a praga de que pretendo falar é outra. É caseira, até onde
sei, ou não sei.
Em todo lugar que chego os
móveis de casa estão se desintegrando, virando farelo. O mesmo aqui na pensão
Sodoma do Acampamento. Fui abrir uma gaveta no quarto da Alemoa, puxei meio
forte e a tal se esboroou diante dos meus olhos, estava carcomida. Encabulei,
ora vir causar dano na casa alheia.
A D. Ledona, dona da pensão,
disse não se preocupe, meu fio, é cupim, isso é uma desgraça. Logo me explicou
que aqueles bichinhos de asa que no verão entram nas casas e ficam arrodeando
lâmpadas são cupins. Se instalam nas casas e comem tudo, madeira, livro e sei
lá mais o quê.
Vivendo e aprendendo. Algo
que a D. Ledona falou me deixou intrigado, pois também tenho a mesma recordação
da infância, mesmo que a minha infância seja mais recente que a dela.
Como é que antigamente os
móveis duravam décadas, ficavam de avós para netos? Não existiam bichinhos de
asas, ou os móveis é que mudaram?
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Gostei muito do texto...
ResponderBorrarMaravilhoso!!
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