Como
todos sabemos a história registra a passagem pelo nosso planeta de Aristarco de
Samos (310 a.C. - 230 a.C.), astrônomo e matemático grego, que foi o primeiro
cientista a propor que a Terra gira em torno do Sol (sistema heliocêntrico) e
que possui movimento de rotação. Por tais afirmações foi acusado de ímpio, algo
como o ateu de hoje em dia, pelo legislador Feliciano Galinha Louca, que, junto
com Jair Tortudélio, eram os ignorantes da época, os temos em todas as
épocas. Bom, só para chegar ao ponto.
Devido
a excelente cultura de seu pai, que embora remediado era dado a leituras, o
personagem Aristarco de Serraria (do conto “A cabeça de cada um”, in Um Amor em
Porto Alegre, 2015, 176 pág., Ed. AGE), ontem lembrado pelo amigo Luciano Moojen Chaves,
custou a ser registrado no cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais da
5ª Zona de Porto Alegre, lá na Rua Dr. Campos Velho, até que ali pelos seus
sete anos o velho, já ciente de que o guri era diferenciado, resolveu
registrá-lo como Aristarco.
O
Serraria ao final é apelido antigo e deve-se ao bairro em que nasceu. Era para
ser “da” Serraria, mas ao assinar seus escritos optou por “de” por lhe parecer
mais elegante.
Bem,
vai trecho do meu longo conto (para mim, tratando-se de conto, 14 ou 15 páginas
é longo). O ambiente é o Botequim do Terguino, ali no Beco do Oitavo, na divisa da Cidade Baixa com
o Centro da capital gaúcha.
“O
filósofo Aristarco de Serraria entra no bar de costas, chamando a atenção da
confraria, que ao vê-lo já sabe o que houve: novamente teve alucinações, o
boêmio sofre de uma síndrome rara, nasceu assim, que faz com que sinta o mundo
rodando em torno de si, por vezes os objetos alçam vôo e ficam enlouquecidos
girando ao derredor. A turma apertou as cadeiras e ele sentou-se, dizendo:
-
Beijos para todo mundo. Bah, eu ia passando na frente do edifício Palestra
Itália da Salgado Filho e o balança-mas-não-cai ergueu-se do chão e veio me
seguindo, valsando, vão lá fora e olhem para cima. Hoje eu juro que é de
verdade.
Ninguém
foi, claro que um prédio de mais de dez andares não iria levantar vôo para
seguir o maluco ao som de valsa. Luciano começa a assoviar Desde el Alma,
provocativo.
- De
outra vez foi o prédio da Prefeitura, depois o Mercado Público, entre outros,
Ari. E aqui dentro, como é que está?, perguntou Silvana Maresia.
-
Vocês e os chopes estão voando de ponta cabeça, com cadeira e tudo, façam-me o
favor, não precisam girar tão rápido, me deixam tonto."
Bem,
até aqui foi para os amigos entenderem, como entendem os boêmios, o que
aconteceu hoje à noitinha.
O
filósofo boêmio entrou no botequim tonto, trôpego, se segurando nas mesas.
Quanto sentou disse que desde ontem é o prédio do Congresso Nacional - quase
escrevo Carnal - que o segue por todo lugar.
-
Normal, Aristarco, você já deveria estar habituado, disse Chupim da Tristeza.
- Estou,
sim, é que nunca me aconteceu isto antes, pela primeira vez sinto que vai cair
em cima de mim! Vão lá fora e olhem para cima, hoje eu juro que é de verdade.
*
A coluna A Crônica do Dias, a exemplo de A Charge do Dias, leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem.
Ele tem as ideias mas eu que pago o pato, terei que escrevê-las, sempre que possível ambientadas no Botequim do Terguino. Antes eram dois bares, que se... fundiram, face a dívidas com o sistema agiotário, desaparecendo ambos levando todos os bens e surgindo outro, limpinho de contas, num negócio de falência de engrupir, mas não entremos em tecnicalidades, disso quem entende é a Fiesp.
O novo bar, com outro CNPJ, em nome da Leilinha Ferro como testa de ferro, manteve o nome fantasia de um dos falecidos botecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.
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