jueves, 24 de diciembre de 2015

Mamãe Noel

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No Natal de 1973, com 21 anos, no Centro de Porto Alegre, eu vindo lá da Rua Demétrio Ribeiro subi a Av. Borges de Medeiros calçando um tênis preto todo esborrachado, vestindo uma calça boca-de-sino de listras grossas de preto e branco na vertical, e uma camiseta vermelha e branca com linhas também grossas na horizontal.


A calça um camarada havia me emprestado, a camiseta era de uma mulher da vida, somente uma amiga generosa de um cabaré da João Pessoa que me cobriu a parte de cima.

Passei o viaduto e estava em frente ao Cine Lido quando uma tianga gritou do outro da rua:

- Sala! Maluco! Vai a algum circo vestido assim?

Ri e respondi daqui:

- É o que consegui, pombas! Tou duro, mas pro trago tenho algum!

- Quer uma Mamãe Noel hoje, Sala?!

- Quero!

- Então vai ganhar mais de uma!

A moça estava hospedada numa igreja da Rua da Praia, logo que passa a Riachuelo, não recordo de onde nos conhecíamos, mas de igreja não era. A tal igreja servia de casa de passagem para putinhas novas que estavam em má situação, andando pela vida com todos os pertences numa sacolinha.

Horas depois, pelas dez da noite, me levou para o dormitório da igreja, entrei pela janela quando um padreco que era fiscal se mandou. Tinha ela e mais cinco apavoradas, como eu sem família e ninguém pela gente.

Levei uns frascos de veneno. 

Passamos um Natal e tanto, quase me mataram no cansaço. Foi também a primeira vez que vi mulher com mulher, ui, dá uma coisa na gente.

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