jueves, 31 de julio de 2014

Amores (1)

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Estou feliz que vieste, moça...
Não sou moça, sou mulher, tenho 41 anos.
Sim, me desculpe, prezada senhora.
Não sou senhora, sou mulher.
Sim... então, prezada mulher...
Não sei isso de prezada, mas pode dizer.
Como foram esses 41 anos? Espere, deixe eu encher a tua taça.
Não quero falar sobre isso, o cara era um pau no cu.
O cara?
Um não, uns quantos, só coisas negativas, eu fora, comigo não.
Sim... Ahn, pois bem, mulher, eu gostei do teu jeito de caminhar, desengonçada, uma ave lin...
O quê, desengonçada? Não sou isso, não gostei, acho que vou embora.
Quis dizer que me deu uma coisa boa o teu jeito, estou feliz que tenhas aceitado vir tomar vinho comigo neste bar, estou contente, andava muito só.
Está feliz mesmo, não minta?...
Sim, estou feliz, ora mentir, para quê? Veja no meu rosto, e ao ver agora o teu breve sorriso, que vi outro dia – raramente sorris, a noite ficou mais linda.
Não te notei, quando tu viu?
Ah, meses atrás, quando esbarraste numa idosa ao subir no ônibus aqui na Rua da Olaria.
Ah, me lembro da velhinha, caiu feio, não olha por onde anda, juntei ela.
Tintim?
Tintim, não, assim não, pelo outro lado, João, é João, né? Não viste que uso a mão esquerda? Assim, tintim. E tu, faz o quê, não me diga que é advogado, esses caras só enrolam.
A gente é que se deixa enrolar. Apenas ando por aí, procurando um amor, uma mulher desengonçada, com jeito de ave...
Não sou daquelas que tu pensa, se aceitei não pense que...
Tua taça está vazia, mulher, espera, assim, este branco é excelente...
Meu nome é Clorilda, mas não gosto, pode me chamar de Clora.
Sim, Clora, eu já sabia, gostei de ti, sabe, a ave...
Gostou porque não me conhece.
Pode me dar um beijo?
Não.
Por que repetir tanto essa palavra?
Não entendi, que palavra?

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