martes, 20 de mayo de 2014

Mesário voluntário

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Pontualmente às 20:30h, uma querida amiga me comunicou que estava passando um ótimo programa na Televisão Educativa - TVE, única que presta em Porto Alegre apesar das pavorosas limitações de orçamento, como aliás ocorre em todo o País com suas congêneres, com início às 20h. Histórias do Sul: 100 anos de Música. Vai até o dia 23 de maio, este 23 de maio que nada tem a ver com a avenida Itororó, amigos paulistas, menos ainda com os heróis de 1932, e sim apenas com a próxima sexta-feira. Liguei o treco e descobri que durava trinta minutos, até às 20:30h. Logo ela enviou outro recado, muito gentil de sua parte, avisando o que eu já sabia, que o show tinha acabado. Amanhã pego na hora, se der.

Porém valeu a pena ligar o caco velho, coisa que raramente aqui acontece. É uma Philips que era jovem em 1977, só funciona depois de dez porradas em cima, dos lados e na cara, e isto porque o moleque filho da coroa gostosa que mora no terraço - ela me disse que tem 34, ora se 43, ou 53 cortado à faca, é coroa nada, enquanto lá em cima eu tratava de assuntos de alcova com carinhos leves na cara e cabelos da louca, espancamento até respeito mas não é comigo, bem, tanto implorou que dei-lhe uns tapas -, ahn, quase me perco, bem, o moleque enjambrou uns negócios para reviver a arma da globo. 


Duas horas depois desci extenuado, branco como cera, e paguei-lhe com dois baseados que um consumidor chapado deixou cair na escadaria do prédio, o gremistinha saiu dando pulinhos e me chamando de papai. Lembrou de algo e voltou-se dizendo: "Ah, fiz um gato pra ti, agora pode pegar tevê a cabo pela geringonça, se gostar me paga quando puder". Espero que não tenha torturado o Gatolino. A Pati, sua mãe, exclamou lá de cima para o mundo inteiro ouvir, querendo me comprometer: "Volta de noite, amor da minha vida, vou fazer massa!". Vou é fugir para a Patagônia.

Um tanto entrevada a minha tevê, nos últimos tempos liguei somente em decisão nacional de futebol, isto se o Inter ou o Grêmio estivessem jogando contra a indiada lá de cima, o que, infelizmente, tem acontecido muito pouco, a última vez foi há uns 8 anos, quando o Inter em seguida ganhou o mundo, depois do histórico drible de corpo do Iarlei que deixou o capitão espanhol catando borboletas à unha no deserto, logo o passe magistral que colocou Gabiru num maravilhoso oásis, vai e faz, companheiro, adeus Barcelona, adeus Dolores Sierra. Quase morri do coração. Aquele Iarlei merece ser imortalizado em vida, com um monumento na Avenida Padre Cacique.

Valeu a pena porque ouvi alguma propaganda até compreender que o 100 Anos de Música tinha terminado, e depois de desligar me toquei que um dos anúncios dava conta de que existe no Brasil um negócio chamado Mesário Voluntário.

Pera aí. A palavra Voluntário me remete para trabalho gracioso. Bem, o retrospecto não ajuda, vez que os famosos Voluntários da Pátria eram os miseráveis e prisioneiros forçados a marchar contra os irmãos ali adiante, ou vai para a guerra ou morre, enquanto os ladrões ricos, como? Ladrões ricos? Eta redundância, bastaria dizer ricos, levavam as honras e as medalhas da Copa, digo, da guerra, mas a origem do vocábulo, "voluntarius", de fato tem o sentido de ir por vontade própria, atualmente com claríssima conotação de ajudar no mole, isto é, sem remuneração pelo esforço pessoal, no máximo sendo ressarcido dos custos materiais. 


Mais ou menos como na guerra, o general diz para o não sei quem, que diz para o capitão, que diz para o tenente, que diz para o sargento, economizei na milicada, para não ficar o dia inteiro escrevendo sobre suas hierarquias, e o abacaxi estoura onde? No soldado raso, aquele que foi à força, ou vai ou morre, seu filho da puta, apanha, vai para a guerra aprender a defender a nossa grana e dos nossos sócios, os mercadores e fabricantes de armas, quem manda não ser um Muhammad Ali, exclama o sargento, já me olhando: "Quem é o maluco que topa encarar sozinho aquela metralhadora inimiga?". O negão olha o campo aberto, sabe que vai morrer, pensa: "Pro Brasil escravo eu não volto, prefiro morrer", e sai no peito e na raça brandindo o punhal. No caso de um milagre ganharia uma medalha de latão, as de ouro, como sabemos, já estavam destinadas para o Duque e seus comparsas..

Outro dia ouvi alguém falar em Voluntários da Copa. O chargista Caba da Peste, quem vem a ser o amigo Newton Silva, lá de Fortaleza, volta e meia pega no pé dos caras, voluntários-otários. Mas estes em último caso até passa, nunca se sabe, de repente o pessoal quer assistir aos jogos de graça, entra no estádio a pretexto de voluntariar algo, troca de camisa e fica numa boa tomando cervejinha e assistindo o jogo, vez que o preço do ingresso só permite ricaço e estranja, pé-de-chinelo não entra nem em sonhos.


Pipoqueiro talvez entre, se assinar um contrato comprometendo-se a entregar 98% do faturamento para a FIFA, este é outro que entra lá, tira debaixo da cesta a sua garrafa de mé, atira a cesta num canto, quem quiser que se sirva, e vai assistir o jogão entre França e Honduras, abertura da Copa no Beira Rio, torcendo para Honduras, é ambulante mas não é sonâmbulo. O vendedor de pé-de-moleque os moleques proibiram, vá entender. Milicos também, pagos por todos nós, mas precisam ficar de costas para a peleja, mirando o comportamento de quem o paga. De fato a sua presença seria necessária, caso olhassem para o lado certo, na Copa haverá muito bandido com o fiofó enfiado nas cadeiras de honra, a começar pelo larápio presidente da própria FIFA, com o ladrãozinho do Jerome a lhe lamber o saco no intervalo, o que não fazem por dinheiro. Mania de mudar de assunto.

Mas, convenhamos, Mesário Voluntário? Essa foi forte. Lembrei-me de Bruno Contralouco. O Oficial de Justiça ou coisa que o valha levou a intimação para que ele fosse mesário numas eleições, isso no século passado, numa briguinha entre predadores e predados, quando Fernando Collor chorava na tevê reclamando que o Lula tinha um equipamento de som 3 em 1 e ele não, seu honesto papai só havia lhe deixado redes de rádio e televisão, depois acusou o Lula de provocar aborto na esposa, que foi quando descobrimos a doçura do fair play da admirável elite brasileira diante do perigo de ver seu mandalete entregar o osso. Claro, o lindinho venceu a disputa, e o Lula, que no futuro viria a ser seu sócio e grande amigo, ficou chorando enquanto ouvia o jogo do Córintiã pelo radinho de pilha. 


Bom, o Bruno abriu a porta, o sujeito perguntou pelo Bruno e ele, que não é bobo, respondeu Quem? O sujeito novamente leu o seu nome. Ah, você está falando do Bruno Contralouco, o cara mudou-se há muito tempo, até o mês passado estava em Belém do Pará. Qual o assunto, sou o Jucão, primo-torto do gaudério, caso ele telefone eu posso avisar, é urgente?

O funcionário da justiça eleitoral disse a que veio. Aí o Contra emputeceu: mas façam-me o favor, vocês não andam regulando bem: o pobre do Bruno separou-se da mulher, uma alemoa perigote que ele tinha, dava para todo mundo enquanto o coitado trabalhava por uma vida melhor, e agora está lá na Amazônia há dois anos lutando pela sobrevivência, e vocês, com tanto bancário e funcionário público que trabalham seis horas por dia, trabalham é força de expressão para dizer coçam o saco, ali dando sopa, vêm logo atrás dele?

O homem esboçou abrir a boca para dizer algo e o Contra seguiu a mil, vermelho de pura indignação. 

Por isso que este País não vai para a frente! Se ele telefonar não vou dizer nada, ora bolas! Se o coitado puder vir será para ver a família, tem uma filha lá na Vila Cefer, e cumprir sua obrigação de cidadão, votando, e vossas excelências querem que no único dia de rever familiares o cara fique trancado? Francamente, nem morto!

O sujeito voltou para o Tribunal Eleitoral e devolveu o papel ao juiz: este aqui está há dois anos na Amazônia e talvez nunca mais volte, apaguem o pobre homem. Riscaram o seu nome do rol de vítimas, nunca mais convocaram.

E agora existe Mesário Voluntário? Essa história está mal contada, tem gato na tuba.


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