viernes, 7 de febrero de 2014

Gatolino com calor

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Deu-se que cheguei do botequim com nove cervejas, de garrafa, numa sacola. Arrisquei-me a morrer ao atravessar a rua, e não de atropelamento, como a pobre da Iracema, que eu nunca mais esqueci e a quem eu dizia cuidado ao atravessar essa rua (eu falava mas você não me escuitava, não), e sim de derretimento, mas fui, tava com sede. Saí salvo pela contramão.

Ufa, voltei, ao desabar na entrada do prédio segui engatinhando, nadando no corredor, o chão em brasa, o ar irrespirável, subi as escadas de bunda, degrau por degrau, mas voltei. Entrei no covil num estado lastimável e o Gatolino exclamou:

Pera, primeiro vamos esclarecer alguns pontinhos. Alguém aí entende a língua dos gatos? Como já falei, entendo a de nenê, bah, e como, e agora entrego tudo: entendo a língua dos gatos também. Já notaram aquela tremidinha na orelha direita? É depoimento. Em especial sei da linguagem do Gatolino, o coitado é gago, mas o rabinho parece um ventilador, fala melhor com o rabo. Pego leve, falo manso, aí o rabo começa devagar, mas se ele ficar nervoso adeus, tal a velocidade do rabicotinho, como digo, o covil se enche de redemoinhos. Li a patinha esquerda, bem...

Ele exclamou: Salito, pegue a faca e me tire o couro, faça um tamborim para a amada Academia de Samba Praiana, não aguento mais de calor! Ou crie vergonha e roube um ar-condicionado!

Como não sei roubar, e ando mal de dinheiro, estou pensando onde deixei minha faca Coqueiro, a única de fio bom aqui em casa.

Ele não perde um piscar dos meus olhos, sente o drama e solta um miau meloso, me faz um carinho e diz que só tava brincando.

Vai brincando, vai, vai brincando.
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