domingo, 17 de noviembre de 2013

Alô, Palmeira das Missões, n'A Charge do Dias

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Ontem a tigrada foi longe no Botequim do Terguino. 

Alô, Palmeira das Missões: não me culpem pelo nome de algumas figuras, não fui eu que botei. Ou é nome mesmo, ou apelido. No caso do Terguino é nome, direitinho lá na certidão de nascimento e na carteira de identidade. Terguino Ferro é o nome completo, aí já viram, né, ele conta que muito foi caçoado na infância, hoje chamam  de bullyng, ou bulingue, um anglicismo que se deve à incompetência dos nossos letrados, que diante de uma língua tão formidavelmente rica, a nossa, não encontram uma expressão para indicar o caçôo maldoso, quando não criminoso, que todos de uma ou outra forma sofremos. Mais tarde, ele diz, veio a compensação, pois lhe serviu de propaganda para esportes de alcova, e mais não podemos dizer sobre tão calientes exercícios físicos, vez que este blog é lido por menores de idade.

Bem, dizia que foram longe, com cantoria até alta madrugada, só pararam quando Bruno Contralouco resolveu incendiar os trapos de um fiscal da prefeitura e de alguns milicos, no total seis elementos, que foram lá reclamar do barulho às três da matina. Como não quiseram ver as otoridades quebradas a pau - em seis o Contra bate com uma mão só - suspenderam os trabalhos. O pessoal é cumpridor das leis, imagine depois acabar preso, uma vergonha inominável, pois o Estado, que somos nós, cobra, se vinga, justamente, hoje apareceriam uns trezentos meganhas armados.

Odoacro (de novo: não tenho culpa), primo do Aristarco de Serraria, de visita ao bar, não se conteve e no início da noite pronunciou breve oração. Levantou-se e de copo na mão arengou:

- Hoje comemoramos, ó irmãos de botequim e de vida, o sucesso do Brasil. Assombramos o mundo pelos nossos dirigentes, homens de esquálidas virtudes, míseras e apenas para os seus, ignóbeis no campo da honra, rasgados em intrepidez com a pecúnia furtada que lhes enche de coragem, bestializados pela ganância sem fim, corações de cortiças encontradas no lodo...

- Diz logo, Odoacro, não vai ficar falando a noite inteira para ao fim chamar os caras de filhos da puta, chama logo, disse a mestra Jezebel do Cpers, impaciente, queria logo entrar na música.

Odoacro hesitou, tinha muito a dizer, parece o Fidel Castro, pelo tempo dos discursos e pela barba, mas consentiu e arrematou:

- Bem... se é assim, doutora, ahn... esses truculentos parasitas de vícios e opróbrios, buracos-negros de egoísmo em nosso continente-universo chamado Brasil, originário do pau que poderia dar cor, abrasando, se houvesse ainda, o pau arabutã, aos seus cadavéricos rostos, simulação de pudor, arapucas de pegar os simples, enojantes por falsas, de centenas de milhares prendemos uma meia-dúzia. Filhos da puta!

Aplausos.

Gustavo Moscão também aplaude, depois diz para Tigran Gdanski, ao seu lado:

- Só entendi o filhos da puta. E uns caras, brrr...

- Então entendeu tudo, Mosca, respondeu Tigran.

Outro dia Aristarco já havia esclarecido que o primão leva o nome de Odoacro em homenagem ao sujeito que destruiu o Império Romano. Os velhos eram cultos. E aqui notem, ó palmeirenses, que interessante: só se fala, com quilômetros de filmes e milhões de páginas, do Império Romano, seus imperadores, seus heróis e seus loucos, mas nada se diz sobre quem venceu aos valentões; pior, insinuam que eles perderam para si mesmos. Por que será que esquecem os exércitos, que chamam de hordas, de Odoacro, será que se previnem, comendo o cérebro, de nosotros?

Bem, mania de mudar de assunto.

Seguiu a festa. Combinaram para hoje, domingo, um grande churrasco em homenagem a Joaquim Barbosa. De salgar com avião agrícola. Como sempre, fecharão o trânsito no Beco do Oitavo com sinalizadores grenal (pintados de vermelho e azul para diferenciá-los dos da prefeitura, que são cor-de-laranja azeda), veemente aviso de que se elementos hostis, a começar pelos fiscais da prefeitura e milicos, passarem dali sofrerão as consequências. Esperam uns cem visitantes, além dos moradores do Beco do Oitavo e do Beco da Fonte (este as escadarias da 24 de Maio). Virá gente da Serraria, da Tristeza, da Cefer, do Menino Deus e de outros tantos bairros. Chupim da Tristeza disse que só da sua parentalha virão uns trinta: - Pelo Joaquim a negada vai andando até a África, se for preciso, disse.

Cícero do Pinho promete a estréia do seu breve grande sucesso, composto em parceria com o ator e teatrólogo Nicolau Gaiola, que fez a letra, o "Samba do Mensalão".

Por telefone agora soube que o Negrote, o sem-teto que mora embaixo do Viaduto dos Açorianos, convidado de honra dos boêmios para todas as festas e jantares, está desde às sete da manhã ajudando ao Clóvis Baixo, Wilson Schu e Marquito Açafrão com os preparativos, é muita tábua, cavalete e cadeira para carregar. Pela mesma ligação soube que Bruno Contralouco e Luciano Peregrino foram vistos ao amanhecer na Rua João Alfredo, de noite atravessada, cantando num boteco. Também me mandaram abrir o correio eletrônico. 

Abri e entendi a razão de ficarem até tão tarde. Não foi só a cantoria: adiantaram-se e já escolheram as obras que ilustrarão esta coluna d'A Charge do Dias.

Ficaram com os seguintes artistas do traço e do pensamento:

Amarildo. Aqui Silvana Maresia explicou ao Gustavo que curso superior era esse.


Dálcio.


Sponholz.


E Sid.



Miss Leilinha Ferro, a coordenadora, ficou com o Jarbas.




Avisaram-me que me concedem o direito a uma a solas, por alguns escritos que cometi nos últimos anos. Não merecia tanto, irmãos. Mas aproveito, buscando uma antiga do mestre e camarada Nani, com a qual homenageio o presidente do PT, pedindo-lhe, humildemente, que fique quieto, por favor, respeite as caras.


Isto posto, coloco a minha camiseta vermelha e branca, de um clube do interior de São Paulo, maravilhosa, menos amada em número de pessoas mas muito mais bonita que a do Internacional, até pelos detalhes em azul e preto nos ombros e nas costas, bermudas e chinelos de dedo, e do subsolo da palafita telefono para cima, aos meus seguranças de arremetida. Bem, de arremetida todos são, o único que joga na defesa sou eu. Digo que hoje não precisamos de nada pesado, podem ir apenas com uma Magnum cada um, bem disfarçada, por via das dúvidas, de Mr. F. Febrabran nunca se sabe. Só três, Kafil M'Oba, Miquirina Segundo e Aristide Neptune. Com a Nigéria, Angola e Haiti estarei seguro. Iremos às festividades do Beco do Oitavo. Digo às minhas mulheres que volto no final da tarde.


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A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que.., bem..., se fundiram  no ano passado (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.

Por vezes trata de realidade nua e crua. Por vezes apenas ficção. Eventualmente contempla ficção e realidade. Os leitores saberão distinguir uma de outra. Ou não.
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