domingo, 7 de julio de 2013

Os inimigos de sua gente

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Hoje vi um vídeo, que vai lá no fim, através do feicebuc da amiga carioca Síndia (clique para conhecê-la), escritora de desmaiar nossas almas ao expor sua alma e sua visão de amor, mostrando bandidos, ela não, o vídeo. Vai lá embaixo. 

Lembrei de outras coisas.

Tinha um cabaré pertinho de onde eu morava, onde eu morava às vezes, coisas dos desastres de amor, em que os de preto agiam assim. Falemos no presente, voltei a viver aqueles momentos, parece que foi ontem, viajo na memória e estou lá, livro na mão, bebida de dose só com um gelinho para não aguar, ouço a música que colocava para tentar abafar a violência vulgar, podre. Quando eu comprei o apartamento eles não existiam, se não eu não teria comprado. Foram expulsos da rua João Alfredo ou outra e se instalaram ao lado. Os donos dessas pocilgas, que o diga a Kiss, têm muita grana, e armas. Um casarão de esquina.

O cabaré é puteirinho, só não alugam cama, você tem que ir para Metel depois de pegar a dama, ou ser pego por ela. Entram mulheres de 21 a 89, dá de tudo, bonitas e nem tanto, a rua se inunda em perfumes de poções curitibanas de oitava catega, e isso de beleza é segundo concepções que nos empurraram e com as quais não compactuo, mas preciso me fazer entender ao escrever estas mal traçadas. Ah, as mulheres e os homens vão para caçar, mas por tesão e amor, não cobram. Pessoas normais, como eu, você e o paraguaio que vai passando lá do outro lado da rua.

A turma do desmanche (não recomendo, mas se quiser saber clique em desmanche) comparece em peso, pau que é uma estaca, sorrisos de mentira, chave do auto na mão para mostrar que é caro, e ao fim se acertam, ah, esta vida gaviona, precisamos desopilar, elas molhadas, mentem primeiro que venho aqui pela primeira vez, uma amiga me convidou, enquanto pensa hoje pegarei um bom, aquele da semana passada não era de nada, deu uma e se apagou, saudades daquele baiano que me dava tapa e gritava bebe meu leite cadela, como esse nunca mais, ui. 

No fundo, bem no fundo, pessoas como eu, como você, como aquele paraguaio que torna a passar pelo outro lado da rua, agora de mão com uma alemoa, sonham com amor de verdade, estamos aqui neste mato caçando só por causa desta droga de corpo que reclama, estamos expiando os nossos erros de falta de paciência com aquela ou aquele que amávamos, esta droga de tesão que nos queima a pele e sobe para a cabeça, não quero enlouquecer, a vida passa, que vergonha meu Deus. Vergonha nada, guria, vergonha é roubar e não poder carregar.

Nunca entrei nesse antro e em nenhum semelhante. Disso entendo um pouco, um pouco que é muito mais do que eu gostaria, se tivesse tido escolha. Entrei em piores, muito piores. Para resumir, que não sou louco de narrar coisas que é melhor que fiquem mortas, embora gritem para sair do túmulo, essas coisas que não quero falar, bem... o conjunto se resume assim: é como salsicha em lata: se você souber como fabricam, não come. 

Nunca entrei mas não por causa de homens sedentos e mulheres famintas, levados por amor ou, vá lá, sinceridade, por tesão. Não mesmo, são humanos, são bons, estão se procurando honestamente. Sonham com a princesa ou o príncipe, mesmo enquanto nadam em lodo. A esperança. A vida que só tem sentido com as cabeçadas que damos, com o gozo, o riso, azar, hoje vou meter o pé na jaca. São todos amados.

É o ambiente que me apavora.

Os de preto agem assim. Se algum boboca bebe demais, pagando horrores em bebidas que não sabemos a descendência - a partir da quarta dose de uísque nem Jesus discerne se da Escócia ou do Paraguai - e faz alguma besteira, eles batem, e batem para quebrar. Na saída, para fazer de conta de que foi na rua, facilitando aos seus milicos comprados quando atenderem a ocorrência, isto é, prender o boboca. Aí os palavrões gritados acordam o quarteirão. 

Toda noite era assim, agora baixaram um pouco a bola, talvez pelo incidente da Kiss. Tinham PMs comprados, para levar o dono para casa às cinco, como batedores em carro oficial, proteger a grana da qual levavam uma ponta. E a cidade desprotegida, os brigadianos estavam ocupados. Alguns, senhor governador, como em todas as atividades existem os bons e os maus. Alguns somente, os maus. 

Os bons dormiam em sono esplêndido (uma vozinha me diz que aquele bolero falava em berço esplêndido), como o seu general chefe desses covardes armados e a corregedoria que parece se trocada por merda dá lucro. Mude o nome, Senhor Governador desobedecido, para Secretaria da Repressão Pública, vez que Segurança só fazem para a RBS, vá se saber a que preço. Reprimir a pau é só o que os ensinam, desde os tempos daquele animal da gilete em escorregador que hoje teria filha deputada. Mas numa hora destas... ao derramar do copo que está pela beira há décadas, não haverá medida, seremos obrigados a nos juntar à horda, armados posto que velhos demais para tolerar quietos espancamentos ou para sufocar sem mais nem menos, e decididamente isso não convém a nosotros que ansiamos por paz e segurança.


Um dia cheguei de pé esquerdo, vindo do aeroporto pelas três da manhã, malinha na mão. Foi subir e entrar no apartamento e começou a lenga. Pé esquerdo é foda, os caras da Repressão adoram, adquirem suposto motivo para te matar, pé esquerdo é pedir para morrer. Todos os dias eles pegam os pés esquerdos das vilas e espancam e matam. Porém sou precavido, não é bem assim, né, João, e agora quase acordo aqueles caixões, deixa quieto. 

Fui à sacada e gritei: podem parar de bater no homem, seus filhos de uma puta, se não vou descer aí. Olharam para cima, loucos para revidarem o filho da puta, mas o jeitão dos motoristas de táxi que ficam também gritando a noite inteira os desaconselhou. Pararam de bater no infeliz que sangrava na boca e segurava a barriga de tanta dor. Os paleolíticos de preto ficaram quietos, mas com o olhar ferino como se dissessem agora sabemos onde tu mora. Eu iria descer atirando no umbigo para pegar no coração ou na cara, não sem antes telefonar pelo caminho para chamar meus bugres, ora eu, hein. Pé esquerdo é mais do que foda. Eu iria trazer metade do presídio e acabar incendiando aquela baiúca, essas coisas não convém começar, vem a febre e se perde a cabeça.

Hoje, quando estou nesse lugar de às vezes, passo pela frente ao sair em lindos sábados dar uma passada no Botequim, longe dali, para ver como vai a tigrada da boemia, abraçar os queridos, e eles olham para o outro lado. Por dentro imploro que cometam um deslize, que me façam uma desfeita. Não demonstro, páro na frente, me volto e abano lá para a sacada, onde uma mulher que me via andando me abana também.

Odeio leões-de-chácara, de farda ou não. A burrice prepotente dos miseráveis, ganhando uma miséria e chupando o pau do dono, como fazem alguns polícias militares, e este alguns é mera proteção boba para não generalizarmos raras exceções, cães amestrados como esses ridículos grandalhões de porta de cabaré, massacrando seus irmãos. Seus milicos, alguns, senhor governador, são é bons para achacar prostitutas na Farrapos, para espancar pobres travecos depois de fazerem "programa" dentro do auto verde ou bico branco. Para derrubar porta de casebre com doze engatilhada sem ordem judicial. Seus milicos, alguns, senhor governador, são piores que a escória que vocês tentam prender e que no fundo são os injustiçados de ontem. 

O sistema, você sabia sim, e entrou porque quis, a ânsia de passar à história, ai fui governador, como se alguém fosse lembrar daqui a 30 anos, mas o sistema, como dizia, o sistema é horrível, então agora seja homem e diga a que veio. Comece demitindo toda a cúpula, eu falei toda, uns trezentos ou mais, de tenente para cima, o restante vamos analisar, claro que sairão muitos debaixo, ali tem alguns que deus nos livre, nem na Alta Segurança de Charqueadas encontrará igual, e isso servirá para enaltecer os bons, que estão aguentando firmes, honestidade com salário de pedinte. Esquece, eu não tenho de dar nomes, de provar nada, é só abrir os jornais, a que ponto chegamos, hein. A responsabilidade é sua! Não creio que tenhas feito campanha para desarmar homens de bem, quando ministro da justiça daquele falastrão que hoje está mais quieto que moleque cagado, agora que eu, cansado de chorar, de gritar ao vê-lo fazendo filminho com o meu sobre aquela vidinha de merda, agora que os idiotas do mundo começam a pedir de volta os diplomas que dão a qualquer vagabundo que esteja em evidência, dizia que não creio que a sua campanha ao lado dos inúteis de Viva Rio tenha sido prevendo o que hoje acontece. Não, eu o tenho por um homem sério, um homem de bem. Mas acorda alice, livre-se daqueles gringos, se sobrou algum, que quase botaram o Olívio na cadeia.

Se eu tivesse perdido uma criança na boate Kiss, aqueles estariam noutra. Dos malditos leões ao dono do lupanar. Julgados e condenados sumariamente, em atitude antidemocrática os leões viriam com papo de eu estava cumprindo ordens, então tá, isso não serve nem para os merdas do Lula, gente da pior qualidade, como o eram os do FHC. Idem para os assassinos do Hitler. Tenho uma sobrinha em Santa Maria, ainda bem que ela não foi naquele antro naquele dia, poderia ter ido, era festa da estudantada, apesar da música ser lixo puro, coisa de sertanojos ou algo assim, e é nojo mesmo, seu, uivos que imortalizam o mau gosto e as tevês do Brasil, as escolas do Brasil. Tivesse acontecido o dono iria entrar na Justiça para ficar na cadeia, de medo de sair, ao contrário do que fez pelos seus advogados, e me facilitaria a vida, é na cadeia que tenho meus esquifes que de tão longos vão daqui a Manaus. É duro lidar com morte nas costas, acaba com a vida do gaúcho, porém mais duro é lidar com a impunidade diante do nosso sangue queimado e daqui a pouco ver o bundinha de 40 anos passar todo colorido em carrão com menininhas felizes sem cabaço e sem escola desde os 11. Se é que isto serve de justificativa, é duro fazer uma bobagem conscientemente, a frio sangue. Ora justificativa, que se danem.

Quanto ao puteiro ao lado daquela humilde moradia, mesmo já não mais havendo lá crianças acordando sobressaltadas com os gritos e o cruel espancamento, no me olvido de ellos, mas resolvi esquecer os infelizes mal-encarados de preto da porta do inferninho. No dia em que der uma merda, que Deus me livre uma vó adoentada, eu vou pegar é o dono e na casa dele, para ver como é bom confusão em nosso lar. E não "semos", como dizia a turma de mortos, levianos de cometer ameacinhas, sei bem o custo de uma bobagem. É promessa, seu, e de onde venho o sujeito que não cumpre promessa não vale nada, faça isso não, seu moço, mas se fizer me chame que eu ajudo.

Sinceridade: vontade de pegar a todos os canalhas eu sempre tive, de longa data e que piorou com aquele túmulo que é melhor não mexer, uma coisa medonha que me ferve nas veias. Mas pára aí, seu, a gente não é louco, não é bandido, a gente é decente, estudioso, bobo de chorar convulsivamente feito menino que perde a mãe ao ver o Mercado Público em chamas, e sabemos o custo se a moda pega, não, não pensem errado. É que o copo vai derramar por motivos aparentemente particulares.

Motivo geral o povo está demonstrando pelas ruas do Brasil, enfim. E vai piorar, digo, melhorar, agora que descobrimos que somos iguais e não estamos sozinhos.

Na Portugália, ao que tudo indica, num jogo do amado Benfica (amado por vermelho, né, como meu pobre coração...) jogando fora - não me parece o Estádio da Luz em que nunca fui mas sonhei -, aconteceu assim:


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