lunes, 29 de julio de 2013

Os ímpios, o herói e o Amarildo, n'A Charge do Dias

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Às onze da manhã os empinantes chegaram em bando no botequim, vindos de uma reunião no escritório de Carlinhos Adeva. O Portuga avisa de lá de trás do caixa:

- O Clóvis Baixo acabou de sair, gente, não tive tempo de revisar, então tomem cuidado.

O engraçadinho costuma desenroscar tampas de açucareiros e saleiros, de modo que quando a vítima vai adoçar o cafezinho ou salgar o tira-gosto desaba tudo em cima.

- Ninguém vai tomar cafezinho, salta uma fada-verde! - disse Wilson Schu. 

- Pra mim um merengue! - pediu Moscão.

- Pra mim um pré-sal! - disse Carlinhos Adeva.

- Um rabo-de-galo!  - falou Chupim da Tristeza. E seguiram-se os pedidos, as mulheres ficaram com martinis e camparis.

- Por que o Baixo não foi na reunião, Portuga, ele disse alguma coisa? - perguntou Tigran Gdanski.

- Disse. Disse que não se mistura com comunistas viados. Comunistas e ímpios, aliás - respondeu o Portuga.

- Mas é bem filho da puta esse baixinho, esse negócio de religião tá deixando ele reaça - falou Gustavo Moscão.

- Por falar em reaça, amigos, proponho um churrasquinho hoje à noite, eu pago a carne, para comemorar a debandada do Pancho Bergoglio, vai que é tarde - disse Marquito Açafrão.

- Pá, matou. Trago minha turma do teatro, todo mundo fantasiado de diabo, com a meninada do samba - prometeu Nicolau Gaiola, o teatrólogo.

- Putz, churrasco já na segunda-feira... - arriscou Jezebel do Cpers.

- Eu topo! - disse Luciano Peregrino.

A maioria topa. Feito.

Luciano leu no notibuc a notícia que deixou a todos exultantes:

- Atenção, tigrada, urgente, notícias do notibuc: Neste domingo um homem, sozinho, armado com uma pistola automática, rosto coberto por um cachecol e com um boné na cabeça, tomou posse de 106 milhões de euros de um hotel em Cannes, é o maior assalto não apenas da história da França, e sim do Mundo! As jóias estavam em exposição num hotel de colas-finas lalaus. Assalto rápido e sem violência, ele dominou os seguranças sem disparar um tiro. O valente saiu andando com algumas maletas tapadas de relógios de diamantes. Saiu rindo, calmamente, a pé. Os bandidos que se diziam donos das jóias não quiseram comentar o épico feito. A polícia está mais perdida que cego em tiroteio.

Tigran apressa-se em fazer as contas, me dá aqui o cabral. Levanta a cabeça e explica, raivoso: Há um tempão vocês aqui chamam guardanapo de cabral, então explico à meninada das mesas ao lado: não é a nota de dinheiro do samba do Chico, de duzentos cruzeiros, amarela, e sim aludindo a um morador do Leblon do distante Rio de Janeiro chamado Cabral, guardanapo, delta e sabe Deus o que mais, Pobre do pai dele, um cara passável, vai morrer de desgosto, por mim que se foda. Pára, silencia. Vê que a moçada não entendeu porra nenhuma e desiste, termina a multiplicação no cabral e diz:

- Mamma mia, mais de 300 milhões de reais! Viva o francês!

- Vai saber se é francês - disse Jezebel -, seja o que for, agora é cidadão do mundo.

- Diamantes de sangue... - murmurou a gatinha Jumesô, que acabara de chegar acompanhada das também estudantes Jé e Barbarita. Essas gurias sabem das coisas, aquele buracão na África e a fome em volta.

- Esse cara precisava fazer uma visitinha a alguns bancos aqui no Brasil - disse o Portuga, pensando no seu papagaio a juros assassinos enquanto trazia alguns copos. 

- Proponho desde já que o elejamos o Homem de Visão de 2013, e Eterno Herói do Beco do Oitavo - exaltou-se Jucão da Maresia.

- Peraí, vamos deixar a eleição pro fim do ano, vai que os animais o prendam até lá, ou que ele não devolva aos negros, uma parte que seja... - ponderou Jussara do Moscão, com o que todos concordaram.

- Nessas horas me dá um pavor de judeu, nada de racismo, só os judeus daquela avenida dos diamantes de Nova Iorque, a rua 47, ao lado da quinta avenida, viram o filme Os Meninos do Brasil, do nazismo, com o Gregory Peck? - disse Nicolau.

Todo mundo viu, exceto a meninada de 28 para baixo, mas anotaram.

- No tempo em que a gente jogava sinuca a dinheiro, quando o cara pifava o taco a turma dizia: Gregório... Péc! só pra se arriar - lembrou Luciano com a mente presa lá na meninice.

Ain Cruz Alta pede ao menos uma salva de palmas em sua homenagem:

- Uma salva de palmas, e ramos de palmas em sua cabeça, ele ganhou Leão de Ouro em Cannes, Oscar de tudo, solito e sem aplauso e com toda a polícia do mundo atrás, incluindo a NSA do bandido Obama Darth Vader - gritou - aplaudamos!

Todos em pé, vibrantes, alguns molharam os olhos, palmas e vivas ao herói de Cannes. Tintim. 

Leilinha Ferro também aplaude, mas depois pede que se resolvam logo com as obras do dia, precisa enviá-las ao blog antes de sair. Ao enviá-las mais tarde, ela pediu que, se possível, mandássemos uma pergunta ao governador do Rio, que com prazer reproduzimos:

- Ei, Cabral, onde está o Amarildo!?

Os boêmios ficaram com as seguintes obras:

Frank.



Nani. Nani tem umas cem na parede do botequim, esta vai se somar, emoldurada. O riso, que vai durar para sempre, tomou conta da rua, o Beco do Oitavo. Vale o samba, o que dá pra rir dá pra chorar...



Newton Silva. Outro que o trem não pega, antevendo... com amor.



Leilinha abriu mão da sua escolha de hoje, em troca da imagem que captou em algum lugar.



A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que.., bem..., se fundiram  no ano passado (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.
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