jueves, 20 de junio de 2013

Lucro nas empresas de ônibus e prejuízo no serviço público

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Ontem à noite, depois do absurdo de a Itália vencer um jogo onde levou um baile dos japoneses, o principal assunto no botequim foi novamente o silêncio dos políticos quanto ao lucro das empresas concessionárias de transporte público, lucro nada, lucrão, tema já abordado outras vezes pelo boêmio Carlinhos Adeva, que só fala nisso (ver Passagem comprada e Como baixar o preço da passagem).

- O negócio é impressionante, chega a ser ridículo, os caras falam, falam, e nunca um piozinho sobre os lucros das empresas de ônibus, é um super tabu. O que dizem é que pedirão redução de tributos para essas empresas, isto é, vão tirar da nossa grana, que deveria ser aplicada em escolas ou hospitais, por exemplo. Deveria, porque o normal é gastar em inutilidades como esse montão de estádios de futebol, tudo obra superfaturada, por alguma razão, como todos sabemos, os políticos se relacionam maravilhosamente com empreiteiras e outros bichos -, disse, pela vigésima vez, o Dr. Carlinhos.

- E a imprensa não pergunta sobre os lucros, nem uma perguntinha de nada, coisa estranha... - disse com ironia Aristarco de Serraria, o filósofo da turma.

- Pode ser despreparo dos jornalistas, são despreparados mesmo -, sugeriu a professora Jezebel do Cpers.

- Vai atrás -, disse Clóvis Baixo - o Carlinhos já pediu que algum jornal ou revista faça um levantamento, primeiro pelas capitais e grandes cidades, para começar. 

- Pergunto de novo: quem são os donos das empresas, pessoas físicas? Qual, quanto, pombas, foi o lucro líquido de cada empresa, antes do pro-labore e das participações, ano a ano, só dos últimos dez anos? Exorbitância, filme de terror, ou apenas um lucrinho legal? Quem examinou as contas, dando-lhes fé? Planilhazinhas é conversa mole, cadê os balanços? Quanto desse lucro foi acabar, direta ou indiretamente, no bolso dos sócios ou acionistas, seja como pro-labore, lucro/dividendo ou juros sobre o capital próprio? - estrilou Carlinhos, vermelho de bravo.

- O poder público deveria disponibilizar essas informações, afinal vivem falando em transparência -, disse Jussara do Moscão.

- Transparência um caralho, nem sob tortura os políticos ousarão entrar nessa fria, fazem de conta de que isso não existe, as concessionárias são entidades de outro planeta. Algum motivo devem ter para isso... -, afirmou Tigran Gdanski.

Luciano Peregrino explodiu em sonora gargalhada, dizendo: - Dá para imaginar o motivo... Os recursos não contabilizados!

- O que é isso, tio Luciano? - perguntou inocentemente a Leilinha de lá detrás do caixa.

- O peéfe, amadinha.

Voltaram ao futebol. Os que assistiram aos dois jogos da quarta-feira tornam a reclamar da televisão do botequim. Não do aparelho, e sim do fato de só pegar canais abertos. Foram muitos a opinar, mas resumimos a ópera. É impossível suportar o áudio da Band e da Globo, dá engulhos, o pessoal acaba perdendo o tesão pelo jogo, pois sem áudio também fica meio chato, é bom ouvir o urro da massa. É que ninguém aguenta o Luciano do Vale e o Galvão Bueno. Outro desastre são os comentaristas, não sabem porra nenhuma,  a moçada fica se perguntando quem os colocou lá, serão parentes do dono? Ressalvaram, quanto aos comentaristas, o Denilson e o Casagrande, esses sabem o que dizem, mas com os narradores juntos nem com boa vontade. Enfim, narradores e comentaristas tornam o espetáculo uma merda.

Tigran Gdanski diz, dirigindo-se ao Terguino e ao Portuga, donos do botequim:

- A gente poderia assinar uma tevê a cabo, né?

- E quem vai pagar o assalto da mensalidade?, pergunta o Portuga, um tanto encabulado.

- Quanto ao futebol seria trocar seis por meia dúzia, pelo que sei - aparteou Jucão da Maresia.

Então o Terguino tomou a palavra:

- Pessoal, desculpem mesmo, de há muito deveríamos ter tevê a cabo, para eventos como futebol e espetáculos musicais, pelo menos ali no salão da sinuca. A verdade é que o bar vai de mal a pior, estamos duros e devendo. Ainda hoje eu pretendia informar que a cerveja vai subir, de cinco para seis pilas. A pizza seguirá a doze paus, também não mexeremos nos demais comes e bebes, até vermos se a cerveja poderá cobrir o preju. Como vocês sabem, ali na Rua da Olaria não se acha bar onde a cerveja custe menos de oito, isto se acharem por oito, e os comes então... Se subirmos todos os preços, isto aqui vai virar bar de colas-finas, como os da Olaria. 

Embargou a voz. 

A sincera confissão doeu no coração dos boêmios.

Terguino continuou:

- Não queremos lesar os usuários do serviço, abrindo mão da presença de vocês. Enfim, não desejamos mudar o perfil da clientela, cola-fina é muito afetado, reclama de tudo. E, afinal, nunca mais veríamos os amigos de tantos anos, isso não vamos permitir de jeito nenhum.

Clóvis Baixo, até então quieto, pediu licença para falar.

- Ora, vamos pensar numa solução, isso já aconteceu antes, com os dois bares, antes da fusão (Aqui). De pronto me ocorre que botequim é uma instituição nacional, gênero de primeira necessidade, o bom brasileiro não vive sem o seu. Merece a consideração das autoridades, mesmo que não seja um serviço público devidamente reconhecido pela burocracia do quem pode mais chora menos. Além de promover o congraçamento dos amigos, a alegria de batuques e violões, também acolhe lágrimas vertidas por culpa daquela pessoa ingrata, e muitas outras sensíveis situações em nossas vidas, não se pode permitir o triste destino da falência, distanciando pessoas, rompendo amigos do peito e de bar. Afinal, o botequim está com prejuízo comprovado, o Terguino e o Portuga mostram os números para quem quiser ver, e não anda fraudando licitação nem sustentando políticos por baixo dos panos, com recursos não contabilizados na origem e no destino. Assim, obviamente que o primeiro passo, que é o que proponho, é pedirmos aos governos a desoneração da folha de pagamento dos empregados, bem como a isenção de tributos municipais, estaduais e federais.






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