domingo, 28 de abril de 2013

Vá para o Inferno, na Charge do Dias em branco

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Os boêmios do Botequim do Terguino, como sabem os amigos, assinaram contrato verbal com este blog, comprometendo-se a fornecer duas colunas, uma diária, A Charge do Dias, e outra, recente, semanal, chamada Os Filhos da Puta. Esta última, com boa vontade, podemos dizer que está em dia.

A Charge do Dias não. E compreendemos as razões. 

Ainda abatidos pelo inesperado, os amigos emudeceram. Tornamos a informar aos leitores: devido ao passamento de Mr. Hyde, que foi para o Inferno, os demais amigos se encolheram Explicamos aos que caírem aqui de primeira viagem: Ímpar figura do Botequim, médico e humanista, Mr. Hyde é como se convencionou chamá-lo, pois este blog por vezes satiriza amigos e situações. A responsabilidade é de quem publica, é nossa. Minha.

Ele não acreditava em céu nem em inferno, muito menos que lugares assim tivessem chefe, não era idiota, e implorava dizendo de farra que, se houvesse algum, que fosse o Inferno, mas este tal como por ele concebido, cheio de mesas fartas, bibliotecas sem fim, cerveja, barricas de chopes, vinhos, uísque, carne gorda, salada de maionese, de tomate com cebola, massa, couve, feijão, bergamota, manga, abacaxi e ariticum, boas camas, mulheres lindas vestidas de folhinhas, umas peitudas, outras menos, só não vale despeitadas, e blues, sambas, boleros, concertos maravilhosos à tarde, uma lista de amores, Beethoven, Mahler, Scarlatti, Mozart!, tantos, não sabemos a ordem de preferência, amava a todos. Todos, que não cabem aqui.

O céu, dizia, se existisse como empurram no pobre povinho, daqui ou do Oriente, seria uma chatice, aquele monte de babacas com rodinha na cabeça, sem comer, sem beber, sem surfar... sem fogo!, umas anjinhas avoando sem vontade, lá entoando Óó..., ora se isso é ser feliz, francamente, nem cafezinho servem.

Hyde era médico, mas não se precisa ser médico para saber que Deus foi inventado, no início com bom propósito, controlar a turba, evitar o caos, e depois... a grana, puxa, há séculos a humanidade pensante sabe disso.

Mesmo sabendo-o feliz, os boêmios andaram abatidos, afinal aquele lugar na mesa 1, ao lado da janela, ninguém ainda tinha ousado ocupar. 

Hoje pela manhã, no início dos trabalhos, ali pelas onze, espantaram a tristeza levados de roldão por ele, o Bruno Contralouco. O boêmio chegou espiritado, de cara Jezebel do Cpers pensou, pronto, amanheceu na rua, o doidivanas, mas nada, estava sobríssimo. Oi para todos e foi até o Terguino, dono do bar, confabulou, se demoraram, a turma seguiu conversando bem feito que o Grêmio perdeu, ora 850 mil por mês para esse Luxemburgo Cochicho, tem moleque levando bola aí, e assuntando coisas do Beco do Oitavo, a noiva que não desiste do Bruno, e das suas vidas, filhos, alguns netos. 

Quando viram, Bruno Contralouco e Terguino Ferro chegaram com copos para todos, naqueles pratos de latão de carregar copos, Leilinha ajudando a descê-los às mesas, eram poucos os amigos, uns vinte naquela hora, mas quase todos dos mais chegados, só faltavam Luciano, Chupim, Açafrão e Schiru, este anda sumido. Copos pela metade de dyabla verde, tiro curto, a moçada anda moderando. 

Bruno Contralouco sentou-se na cadeira da janela da mesa 1, no lugar do Hyde, dizendo em voz baixa daqui em diante eu assumo. Não discursou nem veio com pieguices, só falou:

- Ergo o meu copo - disse e ergueu.

Pelo gesto que era um convite, todos ergueram os seus.

- Tomara que Mr. Hyde esteja no Inferno, igualzinho aqui!

Tintim.

Ali começou a sair o leite retido, a disritmia de que falou Martinho da Vila, o cansaço, o medo, a decepção com Deus. 

Bruno entornou o seu copo e berrou, começando rouco até recuperar as cordas vocais na sua plenitude: Aaaaaaaah! Todos fizeram o mesmo, Jezebel desatou a chorar no meio do seu Aah pequeno, e foi Silvana chorando, e foi Jussara e foi Zilá, e foram as meninas da faculdade, e foram todos. Tigran Gdanski acordou o Japão com RRRaaaaaaah! Carlinhos Adeva ficou com o rosto ensopado, mas não emitiu um soluço, foi de RRaaaa também, Clóvis Baixo sumiu num silêncio que gritava.

E depois se abraçaram, aliviados, mãos apertando mãos com força demasiada, cientes de que a vida precisa continuar, queiramos ou não.

E continua. Lorildo de Guajuviras, lendo o pensamento de todos, a partir do seu, fez troça, imitando os velhos gaúchos de antanho: Sejemos home, já que a nossa vó não foi.

Leilinha Ferro liberou quantas obras quisessem, de ontem, da semana, hoje ainda nada tinham visto, para recuperar o atraso. Luciano estava demorando, já ficaram preocupados.

Debateram, debateram... sobre o Lula ter sido convidado para ser colunista do New York Times os artistas se esmeraram, muitas charges boas, mas os boêmios saltaram fora. Sentiram o mesmo que este blog sentiu: os americanos acharam um jeito de nos humilhar, esbofetear, como nação, pelo insulto aos nossos escribas e pensadores, incontáveis humanistas, muitos de renome mundial. 

Os boêmios citaram um nome, o que muito nos alegrou, como exemplo, para representar um universo de homens de valor, que temos muitos: o autodidata Mauro Santayana, que com rara erudição diz, aos 80 anos, o que vê e o que viu desde menino, o que sente, o que está aos olhos de todos, não o que eles querem ou não querem ouvir.

Ao insulto, o silêncio. A quem esse cidadão estará representando? A si mesmo é impossível, se é notório que seus recursos intelectuais não lhe permitiriam escrever anúncios de Vende-se em jornal de bairro. Sem mandato nem cargo em instituição alguma, representaria o quê? Não batem prego sem estopa, algum objetivo os ianques perseguem, não acreditamos que seja apenas para divertirem-se às nossas custas. Logo saberemos.

E aqui não estamos, como não estavam os boêmios, espantados a partir do fato de que o Lula não sabe escrever nem pensar, ora, é claro que não sabe, é apenas um bom papagaio. 

Não é disso que se trata. Poucos dirigentes redigem seus discursos. Acontece que o NYT, ao que parece, meteu-se numa enrascada, pois é forçoso admitir que acaba de ceder espaço a uma facção de um partido brasileiro, o partido no poder, com essa monstruosa súcia a que chamam de coalizão. Só rindo, ao se imaginar o que poderá dizer algum burocrata dessa facção do PT. Abobrísticos pensamentos, supomos, em brutal contraste às suas práticas.

Em nova postagem, saberemos o que decidiram os amigos neste domingo.








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