domingo, 24 de marzo de 2013

#Rede, bem-vinda

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Muito se tem falado na #Rede, movimento puxado por Marina Silva. É ainda incipiente, não chegou  às massas, porém o  pessoal conta com um tempo bem razoável até 2014. 

Passamos a catar informações, para tentarmos entender o processo. Em princípio nos agrada sobremaneira a idéia de quebrar o monopólio do "fazer política" dos "partidos", esses antros em que se transformaram. A idéia de candidaturas independentes é simplesmente fascinante, será um chamamento aos cidadãos e cidadãs decentes que, sabedores de que seriam obscurecidos pela podridão do sistema partidário vigente, nunca tentaram mandatos, ou, se tentaram, logo se decepcionaram, desistindo. 

Há tempo para que o projeto seja compreendido pela sociedade, para não ficarmos no simplismo, ou armadilha, do "seremos a favor se a Globo e a plutocracia em geral forem contra". 

No Rio Grande do Sul, pelo que vimos, por enquanto a #Rede possui apenas um endereço em todo o estado, e não é na capital (fica no centro da cidade de Canoas, na grande Porto Alegre). O site da #Rede traz o Estatuto e demais informações sobre a organização, clique AQUI

Marina arregaçou as mangas e foi à luta, está viajando o Brasil inteiro, explicando o processo e coletando assinaturas para o registro da nova agremiação. Aqui em casa todos assinaremos, obviamente, o que não significa compromisso ou filiação, como bem esclarece a coordenação do movimento. 

A proposta é o bom combate, com idéias, longe de se arrancar a assinatura de um coitado, à socapa, na penumbra de algum templo, de olho nos cofres públicos. Tendo nomes como Marina Silva e Heloísa Helena na Comissão Nacional Provisória, entre outros, é evidente que essas pessoas tem algo importante a dizer, querem participar, trazer sua contribuição, não se trata de nenhuma quadrilha, como tantas de quem só ouvimos falar quando leiloam seu minutinho na tevê aos grandes tubarões, por dinheiro vivo ou permissão de assalto a alguma estatal, secretaria ou ministério. Acreditamos que todo o pessoal de esquerda assinará, como também as mentes mais arejadas dos partidos de centro, como o PT, e centro-direita, como o PMDB e o PSDB.

Na última sexta-feira, 22, ela esteve em Belém, e concedeu entrevista ao Diário do Pará, que reproduzimos abaixo:



P: Como está o processo de coleta de assinaturas para registro definitivo da Rede?

R: No início, fomos criando as comissões provisórias estaduais. Já existe um colegiado nacional, composto por 90 pessoas, e um colegiado executivo formado por 16 pessoas, além de dois porta-vozes. Nós não temos a figura do presidente. Somos dois porta-vozes, um homem e uma mulher, e, a cada seis meses, dentro do colegiado de 16 pessoas - vamos mudando esses porta-vozes. Estamos cuidando do processo de organização nas redes sociais para divulgar a coleta de assinaturas. Agora, estamos fazendo as visitas aos Estados para ampliar a coleta e também para estimular o debate em torno das diretrizes programáticas da Rede. Vamos partir da “Plataforma pelo Brasil que Queremos”, que foi apresentada em 2010 [durante a eleição presidencial em que Marina foi candidata]. Vamos aprofundar essas diretrizes com os diferentes setores da sociedade para que a gente possa ter um programa que represente o compromisso da sociedade brasileira. Queremos produzir uma agenda para o Brasil em lugar de ficarmos prisioneiros dessa lógica de apenas eleição pela eleição, como se o poder fosse um fim em si mesmo.


P: Quem é o público alvo da Rede? Há um perfil? São mais os jovens?

R: Eu acho que é um povo que está se reencantando com a política. Esse é o perfil. De todas as idades, de todos os setores. Agora, claro que a juventude, até pelo perfil de ser questionadora, está muito mobilizada, sobretudo nos novos espaços de atuação política. Mas é um movimento muito diversificado.


P: Alguns críticos dizem que esse movimento quer “despolitizar a política”. Até na escolha do nome vocês evitaram a palavra partido... 

R: Despolitizar a política é a forma como os partidos estão hoje. Eles é que estão despolitizando a política, porque a transformaram em projeto de poder pelo poder. Você não vê mais os partidos discutindo ideais, propostas. Eles discutem é como faz para se coligar para ter mais tempo de televisão, como é que faz para se coligar para ter apoio de prefeito, de deputado e senador. Não estão discutindo proposta para sair da educação, da saúde precária que temos e da degradação ambiental. Isso sim é despolitizar a política. Não é o nome ‘partido’ que assegura a politização. Ela é assegurada pelo conteúdo, pela visão e forma como as pessoas atuam. Neste momento, o que não falta é discussão sobre o País. Há um reencantamento com a política. Engana-se quem pensa que a palavra partido assegura a qualidade da política. Pelo contrário. Os partidos hoje têm o monopólio do fazer político e estão exilando a sociedade da participação. 


P: A proposta da Rede de limitar o número de mandatos para parlamentares não pode levar à perda de bons quadros políticos?

R: A gente colocou uma cláusula que diz que, em casos excepcionais, mediante um plebiscito entre os membros da Rede, é possível abrir exceção. Mas, em vez de pensar na perda, a gente pode pensar que está ganhando ao não ficar repetindo seguidas vezes pessoas que fazem da política um meio de vida e que se elegem a qualquer custo, que transformam o fazer político em um emprego. Política não é emprego. É lugar de serviço, de buscar o bem comum. Dois mandatos seguidos já dão sim para dar uma contribuição. Fui senadora por dois mandatos e decidi não buscar um terceiro. Estou dando minha contribuição em outros espaços.


P: A Rede mostra uma preocupação grande com o caciquismo. Por quê? 

R: Por que não temer as figuras que se perpetuam no poder? Por que não temer os que se sentem donos dos espaços públicos que não deveriam ser privatizados por determinadas figuras que acabam passando o poder de pai para filho e de filho para neto, como se a gente estivesse vivendo ainda uma monarquia em plena democracia? Defendemos que os processos sejam horizontais, legítimos e para que a haja a possibilidade da alternância de poder, uma das coisas boas da democracia. 


P: A proposta de candidatura independente não enfraquece a Rede, já que serão candidatos sem qualquer compromisso com o partido e seu estatuto?

R: Mas devem ter compromisso com os princípios. Princípio da ética na política e do desenvolvimento sustentável. E quem foi que disse que a sociedade participando da política enfraquece a política? Não vamos confundir fortalecer a política com apenas fortalecer os partidos. A Rede vai ter os seus candidatos orgânicos, os seus filiados orgânicos. A diferença é que, como defendemos as candidaturas independentes, vamos fazer o exercício da filiação democrática para as pessoas que têm representatividade e que sejam coerentes com os princípios da Rede. Essas lideranças devem ter a chancela de um determinado número de pessoais para pleitear uma filiação democrática e assim poderem se candidatar, independentemente. Isso vai criar uma concorrência com os partidos, inclusive com a gente mesmo. Hoje os partidos têm o monopólio da política. Queremos quebrar esse monopólio. Tem muita gente boa que gostaria de participar da política de forma independente. Na Itália, temos essas candidaturas independentes; nos Estados Unidos, na Argentina e no Chile também há. No Brasil só o partidos têm o monopólio da política.


P: Uma das críticas à democracia brasileira é justamente o excesso de partidos. O que a senhora pode dizer dessa crítica no momento em que trabalha para criar mais um partido? A senhora concorda que já tem partido demais no Brasil? 

R: Eu diria que tem política de menos e a Rede vem exatamente para dar uma contribuição a uma cultura política. Nós evitamos o nome partido porque não somos uma configuração semelhante a essas a que você se refere. É uma nova configuração. A política está mudando no mundo. As novas tecnologias estão revolucionando as empresas, a educação, a forma de produzir conhecimento, a arte. Por que não vão revolucionar a política? Os 20 milhões de votos que me foram dados na eleição de 2010 já são uma revelação de que os partidos, da atual forma como estão, não conseguem mais manter o monopólio da política. Existem outras formas de dialogar diretamente com o cidadão, que não quer ser apenas espectador. Ele quer ser também protagonista. 


P: A senhora saiu do PT, se filiou ao PV e agora está criando a Rede. A experiência no PV foi ruim? 

R: Foi um misto de coisas muito boas com coisas negativas. Foi bom porque ali existem pessoas sérias, comprometidas. Infelizmente foi ruim porque há uma burocracia cristalizada que monopoliza o partido, que não faz eleição para escolher seus dirigentes. Foi por isso que eu saí. Eu não posso fazer o discurso de um partido democrático, aberto para discutir dentro de uma legenda que sequer escolhe seus dirigentes. Mas o PV é um partido que tem pessoas com compromisso com a sustentabilidade e continuamos juntos na comunidade de pensamento. 


P: A senhora tem falado em prazos para coleta de assinaturas para registro definitivo do partido. Vocês pretendem lançar logo candidatos nas próximas eleições?

R: Temos o compromisso de estar aptos para poder fazer essa escolha. Se fosse o interesse apenas de fazer a eleição pela eleição, teríamos criado o partido em 2011 para concorrer em 2012. Não é uma agenda eleitoreira. Ficamos dois anos configurando o movimento. Eu até lutei muito para que continuássemos como movimento, mas as pessoas começaram a querer participar da política institucional e queremos estar aptos para decidir se vamos ter ou não candidato.


P: O seu nome aparece naturalmente como candidata à presidência... 

R: Tendo sido candidata [em 2010], o nome está sendo colocado, mas essa decisão será tomada no tempo certo. Não vamos antecipar a discussão eleitoral. Acabamos de ter uma eleição para prefeito e já anteciparam a eleição para a presidência porque só estão vendo o poder pelo poder. E nós queremos discutir propostas, ideias. Não estamos fazendo qualquer coisa para conseguir as 500 mil assinaturas. Queremos os que têm identidade programática.


P: A senhora já declarou que a Rede não é oposição nem situação. Afinal onde a Rede se situa no atual quadro político?

R: A Rede tem posição. A oposição pela oposição e a situação pela situação não contribuem com o País. A situação por situação só vê méritos, mesmo quando os erros saltam à vista. A oposição por oposição só vê defeitos, mesmo quando os acertos são evidentes. O Bolsa Família é um excelente programa de inclusão social. A oposição por oposição levou muitos anos para reconhecer isso. A estabilidade econômica e o controle da inflação são uma conquista do Brasil. Não tenho dificuldade em reconhecer isso, mas também não tenho dificuldade em assumir posição contrária ao que está sendo feito com o código florestal. Se a presidente Dilma Rousseff tiver uma boa proposta para inclusão social ou a saúde, pode ter certeza de que terá meu apoio. Mas se ela negocia com a bancada ruralista o fim da proteção às nossas florestas, eu assumo uma posição contrária. Isso é ter posição. 


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