sábado, 30 de marzo de 2013

Aleluia de um farsante, n'A Charge do Dias

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Os boêmios do Botequim do Terguino seguem em seu périplo de indignação, no rastro dos artistas do traço e do pensamento. Aliás, a comunidade dos artistas é a mais firme instituição democrática do Brasil: não combinam entre si, mas "sentem" quando o perigo é muito grande, quando o abuso é demais, e aí não sossegam, do Oiapoque ao Chuí.

Os amigos estão de churrasco de peixe no Beco do Oitavo,  com dois tonéis cortados dispostos no canteiro no meio da rua, ao lado do pé de oliveira. Um sábado ensolarado, magnífico, em Porto Alegre. Além do churrasco de salmão, terão vinhos e a fantástica Bacalhoada à António Portuga

Negrote e os demais moradores de rua da Cidade Baixa cedo se instalaram em quatro mesas que Luciano Peregrino lhes reservou na calçada, como sempre. No total, doze mesas. Hoje a novidade é a presença da Meméia, nova na praça, idade indefinível, toda escabelada, que juntou-se aos seus irmãos de infortúnio. Toda escabelada e feliz. Racionado será apenas o vinho, essa turma pega forte e não convém, a maioria tem a saúde abalada. O Contralouco será o garçom das mesas de Los Callejeros, como os apelidou. Eles o respeitam, quando algum adoece ele o leva para a sua casa. É comum ficarem hospedados mais de uma semana, Mr. Hyde medicando, até conseguir vaga em hospital.

Falar nele, o Contralouco, que costuma se postar de tocaia naquela via, à espera de algum "pastor" (horror dos horrores: para "encher de porrada", como diz), disse que não estava a fim de se incomodar num dia tão bonito, então colocou placas de advertência no início e no fim do quarteirão: 

"Pastores e Judas, tudo a mesma coisa, imploro que não passem daqui, há perigo. Ass: Contralouco. PS: Políticos também".

Retornou ao bar dizendo: "Pra depois não dizerem que não avisei".

Somente Gustavo Moscão não gostou da iniciativa, disse à Jussara: "Pombas, passamos o ano inteiro caçando os bandidos, e logo hoje, que é o dia de bater o brim deles, o Contra me vem com essa". 

Jussara do Moscão, sua esposa, que vive se preocupando com essa mania de encrencar com a "corvada", com um olhar desestimulou-o de propor a alteração dos avisos, queria mudar para "Pastores de preto, imploro que entrem e sintam-se em casa, temos festa em sua homenagem. Ass: Contralouco. PS: Políticos também".

O filósofo Aristarco de Serraria usou da palavra, para uma platéia atenta. Depois de discorrer sobre o significado do Sábado Santo, ou Sábado Negro, foi direto ao ponto: 

- Alevantam-se, ó confrades, aos poucos, as vozes da nação, pelo seu povo e seus intelectuais. Ontem o pensador Mauro Santayana (AQUI) deu uma espinafrada geral na sociedade e nas autoridades, a respeito do farsante que tomou os noticiários. Vou ler um pequeno excerto: "Flagrado em vídeo que o mostra em pleno ato de estelionato, ao exigir de um fiel a senha de seu cartão de crédito, o 'pastor' não foi expelido da Comissão, pela negligência ética e cumplicidade corporativa da Câmara. Ele e seu partido, que se intitula 'cristão', são uma blasfêmia e um insulto ao homem de Nazaré que nos dá a sua mão na difícil travessia da vida". 

Respirou fundo, emocionado, e prosseguiu:

- Sentimos falta das vozes de muitos respeitáveis políticos - não ouse, Sr. Lula, a conversa não é com o senhor. Só como exemplo: Suplicy, Paim, onde andam vocês?".

Logo serenizou as feições e seguiu falando sobre o significado destes dias. Pifou o gravador, mas Jezebel do Cpers garante que foi uma informal Liturgia das Horas.

Miss Leilinha Ferro, a coordenadora da coluna, ciente da importância do tema, liberou um número de obras maior que o regulamentar, que escolheram antes do almoço. Amanhã virão com amenidades.

Vão em desordem:

Frank, de A Notícia (Joinville, SC).



Clayton, de O Povo (Fortaleza, CE).



Miguel, do Jornal do Commercio (Recife, PE).



Zé Dassilva, do Diário Catarinense (Floripa, SC).



Sinovaldo, do Jornal NH (Novo Hamburgo, RS).



Flávio (o famoso Flávio Luiz Nogueira, baiano de Salvador, que reside em Sampa). Aqui Chupim da Tristeza não se conteve, expressando o que passava na mente de todos: "O Flávio matou a pau, o pobre bicho é o menor dos culpados".



J. Bosco, de O Liberal (Belém, PA).



Thomate, de A Cidade (Ribeirão Preto, SP).



 A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que no ano passado se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.

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