lunes, 28 de enero de 2013

A tragédia de Santa Maria, n'A Charge do Dias

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O principal assunto dos boêmios foi a tragédia de Santa Maria, como não poderia deixar de ser. Principal não, único.

Muitos suspirando aliviados, não perderam ninguém, outros lamentando a perda de filhos de amigos e conhecidos. Sentimentos de tristeza e revolta. Não perderam ninguém é força de expressão, como disse Clóvis Baixo: 

- Que eu saiba não conhecia ninguém, e perdi todos.

Jussara do Moscão, que tem familiares naquela cidade: 

- Na cidade e arredores, não há quem não chore uma perda de amigo ou familiar. Incrível como ainda acontece esse tipo de coisa.

Silvana Maresia desata em choro com gritos de pavor. Jucão a arrasta para o banheiro. Soube agora que uma menina era sua afilhada. Seus gritos ecoam no bar e em toda a Cidade Baixa. Em seguida voltam, ela com o rosto feito cera, mole, trêmula, e saem, Juca acena em sinal de deixem comigo. Precisam viajar. Jezebel corre para fora, despedir-se e dar um alento à companheira. Correm todos.

Um longo silêncio se instala no botequim.



Lúcio Peregrino, com raiva na voz: 

- A gente que é da boemia sabe bem como são esses antros, já entramos de bobos, na primeira juventude. O Sr. Rei da Noite, como chamam ao dono daquela bosta, só quer saber é de tomar a grana da moçada. Veste uns leões-de-chácara como pastor da universal e a única coisa que os ensina é roncar grosso e dar porrada na moçadinha que exagera na bebida. Treinamento em caso de acidente, nunca. Nesses locais deveriam agir como fazem nos aviões: na decolagem a orientação sobre o que fazer em caso de problemas, a recomendação de calma, onde estão as saídas de emergência, etc, com gente preparada para lidar com isso.

Contralouco: 

- Que nada, é isso que tu falou no começo, só querem saber de tomar os caraminguás da turma. Se as autoridades derem uma geral nesse tipo de cabaré, fecha todos, é tudo assim. o lixo. Eu queria pegar um desses caras...

Contralouco tremia, levantou-se e foi para a sinuca nos fundos.

Wilson Schu: 

- Qualquer dono de bolicho sabe que é proibido brincar com fogo em ambiente fechado, e mesmo sabendo permitiram que o músico brincasse, com pedra cantada antes, a banda alardeava essa sua característica, logo naquele barril de pólvora.

Jussara roga: - Há de custar caro para esse bundão, mas qualquer que seja a penalidade, não trará as vidas de volta.

Aristarco murmura, tentando evitar a raiva: - É, não traz de volta, mas uma cana firme fará com que os outros pensem melhor na segurança de suas baiúcas.

Jezebel, já de volta, olhos vermelhos: 

- Esperemos que hoje, agora, neste momento, já, as prefeituras de todas as cidades brasileiras, do mundo, estejam providenciando visitas com fiscalização rigorosa nesses locais.

É, gente, também aqui na palafita a desolação é completa. Olhamos os nossos pequenos. O que dizer numa hora dessas a um pai ou mãe, que perdeu o filho, filha, netos? É brabo, mas coragem, pessoal. Deus é grande. 

Os artistas do traço e do pensamento choraram a desgraça. 

Sinfrônio, do Diário do Nordeste (Fortaleza, CE).




Regi, do Correio Amazonense (Manaus, AM).



Geraldo Passofundo.



Marco Aurélio de Zero Hora, (Porto Alegre, RS)




A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos meses se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.

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