lunes, 26 de noviembre de 2012

Adeus, mundo cruel; n'A Charge do Dias

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Lúcio Peregrino, o terror das mulheres e asponas de políticos, com seu copito de dyabla verde e um prato de picadinho de pepino em conserva à frente, lê as notícias do notibuc:
 
- Joaquinzão segue comandando a dosimetria das penas, hoje vai atolar nos políticos. Ao abrir a sessão do Supremo, olhou uma charge do João Paulo Cunha (PT), Valdemar Costa Neto (PR), Pedro Henry (PP), Pedro Corrêa (PP), Bispo Rodrigues (PL, ex PR), Roberto Jefferson (PTB), Romeu Queiroz (PTB) e José Borba (PMDB), além do ex-tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri, todos com pijama de presidiário, e exclamou: "Hoje eu vou afundar o calção de vocês, gurizada medonha".

Ora, gurizada medonha? Só isso, para esse monte de fezes? - diz o Contralouco. Disse isso e tocou o telefone, atendeu e saiu às pressas.
 
Os boêmios sabem que o Lúcio mais inventa que lê, mas preferem assim, cientes de que  os donos dos jornais são pouco ou nada criativos em relação aos seus amigos. Vai em frente:
 
- Polícia Federal segue encantando os homens de bem. Depois de deflagrar a Operação Porto Seguro, estourando os bandos da Secretaria da Presidência da República, AGU e ANAC, enquadrando as amizades do Lula, Dirceu e Palocci, agora traz a público a Operação Durkheim, prendendo 33 pessoas de duas quadrilhas e cumprindo 87 mandados de busca e apreensão. Os caras tinham um negocinho de compra e venda de informações sigilosas.
 
Como assim Durkheim, o sociológo? - pergunta Aristarco de Serraria, vivamente interessado.
 
- Já saberemos - responde Lúcio. Prossegue:
 
- Entre os que tiveram a casa invadida com ordem judicial, está o vice-presidente da CBF e presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo Del Nero. O inquérito policial foi aberto em setembro de 2009, a partir do suicídio de um policial federal em Campinas; esta a razão, dizem, para o nome da operação, Durkheim.
 
O filósofo Aristarco intervém:
 
- Agora tá explicado. O francês Émile Durkheim escreveu o clássico O Suicídio, lá pelos fins do século retrasado. Foi o primeiro a ensinar como se escreve uma monografia sociológica.
 
Lúcio recomeça a sua "leitura":
 
- Um babacão, dirigente do Inter, só ontem se tocou de que o time precisa ir para o último grenal do Olímpico com um técnico forte, para que eles nunca esqueçam da melancólica despedida do seu lendário estádio. Essa gente não aprende, quando cai a ficha é tarde demais. 
 
Peraí - interrompe a mestra Jezebel do Cpers, esquece esses otários, fala mais do suicídio, Aristarco, está por dentro, né?
 
- Mais ou menos, Jêze. Para ser breve, é o seguinte: até então o suicídio era relacionado à individualidade de cada um, e Durkheim defendeu que é fruto do meio social. Por exemplo, a pessoa sem companheira ou companheiro de vida, sem filhos, ou esquecida pelos filhos e parentes próximos, tá pela sete. Sem amigos, que além da família não existem, se existem é raridade, sem ninguém para desabafar, abraçar, chorar, deu. Se, junto a isso, estiver mal de grana, então, fudeu tudo.
 
Clóvis Baixo se viu dentro do exemplo e saltou:
 
- Sai, bicho ruim, eu fora! Tenho as minhas enfermeiras! 
 
Risos. Nicolau Gaiola chega ao bar e junta-se à turma, enquanto pede uma cerveja ao Terguino. A estudante Leilinha Ferro sai lá do caixa e se aproxima, interessada. Pedem que Aristarco prossiga.
 
- Bem, a rigor é isso aí, a partir disso todos podemos imaginar situações que levam o cara pro buraco, quer dizer, do buraco sentimental para o literal, sete palmos. O francês dividiu o suicídio em três tipos: egoísta, altruísta e..., pera, deixa lembrar, ah, anômico. O egoísta tá no exemplo que dei: o cara se mata pra parar de sofrer, já que ninguém se importa com ele, e ele sofre demais por ser ignorado, no mais das vezes por gentes sem dez por cento da sua cabeça, da sua sensibilidade. O altruísta é quando o sujeito se acha sem nenhuma importância, ou ainda por uma suposta causa maior, este último é o caso dos kamikazes ou dos atuais homens-bomba, naquela de eu vou mas levo um monte de malvados comigo. Lúcio, veja anomia aí no dicionário do nóti.
 
Lúcio encontra. Anomia: Processo ou estado da sociedade em que se perdem ou não se reconhecem valores ou regras normativos de conduta, ou de crença, o que dificulta a referência do indivíduo ante as situações comportamentais e éticas contraditórias com que se depara.
 
- É isso aí. O sujeito entra numa de que este mundo não tem nada a ver com ele. Ora, viver pra quê, pra ver os políticos e grandes corporações investindo em ignorância do povo, pura escravidão dos bobos alegres, e roubando e matando a não mais poder? Pra acabar preso nos belos presídios, se se rebelar? Aí já viu, pensa "Não aceito as regras desses filhos da puta, prefiro me matar". Aqui o cara pode optar pelo altruísta, parece mais agradável levar alguns bandidões junto consigo, mas muitos não atinam pra isso, ou não dispõe de recursos para tanto, então pega e sai fora logo. Claro, cada caso é um caso, muitas variáveis interferem, de repente junta as três, a depender da cultura de cada um, mas em geral é por aí. Dizem que há uma quarta, a ser estudada junto com as outras, mas chega.
 
Aplausos no botequim. Nicolau Gaiola, o ator e teatrólogo, que se manteve quieto até o final da fala de Aristarco, conta:
 
- Há uns dez anos andei estudando esse tema, acabei escrevendo uma peça que não terminei. O título era Adeus, mundo cruel. Ao cabo de um ano decidi abandonar o projeto, me bateu uma deprê muito forte, era muito novo, e empaquei na cena do suícídio. O cara se matava no exato momento em que, no outro lado da cidade, uma filha, já com 30 anos, vendo o mundo com outros olhos, começava a remoer seu arrependimento pelo descaso, quando não desprezo, que lhe dedicou, e levantava o telefone. A morte, eterna companheira, e o remorso das almas mais elevadas, aprofundei no remorso. Não pude mesmo, confesso, concluir, mas depois desta conversa, que me doeu menos, tantos anos passados, vou procurar a papelada lá em casa, talvez agora...
 
- Putz, deprê tá batendo em mim, com essa conversa, não podiam falar de coisas mais alegres? Minha família são vocês, gostaria que fosse as enfermeiras, mas não, são vocês... Segue as notícias, Lúcio - diz Clóvis Baixo.

A turma acorre em passar a mão, pára com isso, Baixo, imagine...

- Dilma tá fuzilica da vida, soltando fumaça pelo nariz, por saber que há apenas onze dias seus aspones lhe deram para assinar um decreto nomeando um dos indiciados pela Operação Porto Seguro. Tem gente que é cega. Cega é ela, os aspones são apenas burros, todo bandido é burro, acha que ninguém vai notar a mãozinha de gato. Ela merece os aspones que tem, ela os escolheu. Ela que vá a pu...

Pára, meu, só lê as notícias! - exclama Tigran Gdanski.
 
- Governo pretende botar mais água na gasolina...
 
- Por favor, pessoal, antes me passem as charges - pede Leilinha -, depois podem bater boca até quando quiserem, preciso ir.
 
Os empinantes ficaram com o Elvis, do Correio Amazonense (Manaus, AM). É um tourinho de merda!, grita Clóvis Baixo, ainda emocionado.

 
 
 

E com o Pelicano, do Bom Dia (São Paulo, capital).

 
 
 
Leilinha Ferro com o Duke, de O Tempo (Belo Horizonte, MG).

 
 
 
 (A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos dias se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário, como eles dizem. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro)
 
 
 
 
 

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