martes, 16 de octubre de 2012

A rede e o cerco do parlamento em Lisboa

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Anteontem, domingo, dia de festa no bar, falou-se das grandes passeatas de sábado nas cidades de Portugal, com a demonstração pacífica do descontentamento popular com os governantes (veja Domingo lusitano). Falou-se também que as redes sociais estão mudando o mundo.

Não vai muito tempo era quase impossível, os grandes meios de comunicação, eternos aliados dos grandes ladrões - os chamados "poderosos" -, possuem o mesmo DNA, não davam e não dão um pio sobre temas de interesse dos trabalhadores. Ao contrário, omitem qualquer iniciativa e condenam as pessoas à alienação, pelas suas fétidas programações. Falam de protestos e passeatas, sim, mas depois de realizados, e mesmo assim subestimando o movimento: se havia vinte mil pessoas, dizem cinco mil. Se deu briga, os trabalhadores que começaram. Não mudaram, mas aos poucos estão sendo forçados a reduzir a mentiralha, as redes sociais os desmascaram. Pode-se imaginar como será quando o acesso à internet for universal, essa a razão por que tanto eles insistem em "mecanismos de controle" da rede.

Houve nova manifestação ontem, convocada pelas redes sociais, desta vez para cercar a Assembleia da República em protesto ao documento e às medidas de austeridade previstas para o próximo ano, e juntou aposentados, desempregados, estudantes, professores, estivadores, entre outros, mas foi notória a ausência de representantes políticos e, muito importante, sindicais, de pelegos os irmãos d'além-mar também estão cheios.

E aconteceu o cerco ao parlamento de Lisboa, esta o Saramago gostaria de ter visto. É só um começo, José, não perde por esperar. Os manifestantes com rústicos bombos, tambores improvisados, tachos, panelas, cartazes feitos em casa, e agora com algumas bandeiras negras, em vez dos lenços brancos de sábado, com as palavras de ordem de "Coelho sai da toca" (alusão ao primeiro-ministro Passos Coelho, lá entocado) e "Os ladrões estão lá dentro e a polícia está cá fora".



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Infelizmente esse é o único jeito - a pressão popular - para colocar os asseclas dos banqueiros a correr. 

Agora marcaram para 12 de novembro a visita da chanceler alemã Angela Merkel - a chefona da odiosa troika dos banqueiros mundiais - a Portugal, dois dias antes da greve geral anunciada anteriormente pela Confederação dos Trabalhadores. Parece, e é, provocação. Talvez pensem que com algum sangue, que não o deles, os ânimos se acalmem. Imediatamente a Confederação anunciou ações de protesto. 

É uma temeridade nos guiarmos pelos grandes jornais, mas é o que temos, mas somente para se ter uma vaga ideia dos acontecimentos. Logo os blogs  portugueses, como o facebook, tratarão do assunto em minúcias. O que mais se estendeu foi o jornal Público.

Há informações de outros meios de que não houve nenhum ferido, mas note-se depois a mal disfarçada "imparcialidade" do jornal. Aconteceu assim: Milhares de pessoas, homens e  mulheres, boa parte com as crianças pela mão, caminharam para fazer o cerco, enquanto outros tantos iam pelo outro lado, para o abraço, o cerco, era essa a intenção, todo  mundo sabia. Devagar, dispersos, sem briga. Passam uma barreira que não deveria existir. Aí uma parcela minúscula do povo, por um salário miserável e  trajando armaduras, capacetes duros, luvas à  prova de  fogo, com porretes inumanos que não são  feitos de pau, pau a gente aguenta e luta, mas de química que arrebenta, pois estes, casualmente, foram quem se  feriram ao investir brutalmente sobre pessoas desarmadas, algumas sem "camisola", como mostra a foto ali em cima. Dez policiais feridos! E só um manifestante, este torceu o pé no meio-fio ao se esquivar de uma porrada daqueles paus que não são paus? Garrafadas, petardos? Cerveja (notem a insinuação... bêbedos). Só faltou dispararem um míssil, esse povo precisa apanhar mesmo...

Precariados.

Não desatamos a rir por uma única razão: porque é de chorar. E resistir!

Se isto passasse na Globo, o povo da escuridão acreditaria e odiaria os "baderneiros" do cerco de Lisboa. O povo do Brasil já fez isto muitas vezes. Ah, Jezebel, as escolas...



Para fazer face aos manifestantes que subiam a rua e já tinham derrubado um ecoponto, cerca de 20 a 30 polícias carregaram sobre o grupo. Segundo a TVI, 11 pessoas ficaram feridas: dez agentes da PSP e um manifestante, que foi transportado para o Hospital de S. José.

Em frente à escadaria do Parlamento, onde há protestos desde as 18h, foram atiradas garrafas aos polícias, lançados petardos e foi ateada uma fogueira, que cerca das 23h ainda ardia com alguns detritos.

Durante a tarde e parte da noite, centenas de pessoas protestaram frente ao Parlamento. Cerca das 21h, parte dos manifestantes desmobilizou, mas outros continuaram no local.

De cartazes em punho, os manifestantes gritaram "gatunos"e "é hora do Governo ir embora". A maioria dos cartazes apelava "demissão" do Governo e ao fim da influência da troika em Portugal.

Duas mulheres semi-nuas tentaram passar a barreira policial, sem sucesso. Outras pessoas solidarizaram-se com a iniciativa e começaram a despir as camisolas. Para dentro do perímetro policial foram arremessadas garrafas de vidro e cartões vermelhos, que simbolizam a vontade das pessoas em mandar o Governo para a rua. Muitos iam pedindo aos polícias que se juntassem a eles.

Cerca das 20h30, os manifestantes já tinham invadido até metade do jardim da fachada principal do Parlamento (excepto na escadaria, ocupada pelo corpo de intervenção da PSP). Nessa altura, fizeram um cordão humano e espalharam-se em torno do edifício, acabando por se concentrar sobretudo na entrada lateral da Assembleia da República, junto ao parque de estacionamento.

As pessoas que se encontravam ainda dentro do edifício foram aconselhadas a não sair, e ninguém foi autorizado a entrar.

Por essa hora, já tinham rebentado dezenas de petardos e tinham sido atiradas muitas garrafas de cervejas aos polícias. Carrinhas do corpo de intervenção da PSP foram chegando sucessivamente, com agentes e alguns cães "para manter a ordem pública". Alguns agentes filmavam a manifestação, apesar de a Comissão Nacional de Protecção de Dados considerar estas gravações ilegais.

A manifestação tinha começado calma por volta das 18h mas os ânimos foram-se exaltando com o passar do tempo e com a chegada de mais pessoas ao local. Por volta das 19h, o número de manifestantes não era suficiente para formar um cerco ao edifício, como pretendia a organização, mas já preenchia o espaço à frente da escadaria. Fonte da PSP disse ao PÚBLICO que estariam no local cerca de 1200 manifestantes, mas o número não é oficial.

O ambiente tornou-se mais tenso quando um homem tentou retirar as vedações que impedem os manifestantes de chegar à escadaria da Assembleia da República. Nesse momento, outros manifestantes desviaram o homem do local e acalmaram-no. No entanto, pouco depois foram derrubadas várias grades e algumas pessoas conseguiram chegar ao jardim da Assembleia da República, onde foi montado um cordão policial.

As grades colocadas em torno do edifício foram transformadas numa espécie de "muro das lamentações ", onde os manifestantes puderam colocar a sua opinião. A multidão esteve a ser vigiada por centenas de polícias e elementos do Corpo de Intervenção da PSP, cuja equipa foi sendo reforçada com o passar das horas.

O ritmo das reivindicações foi acompanhado por um grupo de pessoas que tocavam bombos. Ao lado, um conjunto de manifestantes com cartões vermelhos na mão. Pouco depois das 19h havia ainda muitas pessoas a juntarem-se ao protesto.

Pouco depois de gritarem "invasão" em uníssono, os manifestantes cantaram em coro o Hino Nacional. Tiago Lima, membro da Plataforma 15 de Outubro, disse ao PÚBLICO que a manifestação "está a ser muito combativa". Questionado sobre a hora a que pretendiam terminar o protesto, respondeu: "Gostaríamos de ficar até o Governo se demitir".




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