jueves, 20 de septiembre de 2012

Revolução Farroupilha: seguimos esfarrapados, pero ainda cantamos

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Em 20 de setembro de 1835 eclodiu a Guerra dos Farrapos, o mais longo conflito armado ocorrido no Brasil, que durou quase dez anos, nove e meio,  com os farroupilhas passando por cima dos imperiais no confronto da Ponte da Azenha e tomando Porto Alegre de assalto. Sangue já vinha sendo derramado, mas ali se oficializou.  Como pano de fundo, a independência obtida pelos irmãos orientales sete anos antes, e o desejo de libertação das amarras econômicas impostas pelo império.

De quebra, deu exemplo a outros levantes, como a Sabinada: os  baianos, gente mui valente, não aguentavam mais e foram no embalo. Por falar em gente valente, esqueçamos as propagandas de janotas imbecis, quando querem nos mandar à guerra: todos os homens são iguais. Valentes ou covardes, os homens do povo, depende da cuidadosa lavagem cerebral dos invasores e dos nacionais vendidos. Ao fim e ao cabo, da boa instrução, da cultura.

Homem lido ninguém leva na conversa, ele não teme a ninguém. Mesmo sem leituras, homens com uma vida digna não se curvam. Homems daqui, da Arábia ou da Cochinchina. Ao transformá-los em vassalos, pela falta de leitura, preparo, com a indignidade da fome, da judiaria, os vendilhões que receberam terras de capitanias, no amor, os usam, os transformam em sombras de homens, restos. E facilitam as coisas para o invasor.

Como os espoliados iriam oferecer reação? E há os homens descontentes, isto vindo da alma, que para não se submeter se tornam almas prontas a seguir aventureiros que somente querem passar para o lado de lá, querem ser condes, ricaços, e os homens aviltados seguem inimigos como aqueles que quase os matou de inanição física e mental. Como vimos nos últimos 58 anos, ai como sou lindo. Uns governantes de merda. 

Uns desgraçados (alô, intelectuais de Sampa, se arrependimento matasse, hein... teríamos saído por outra alternativa), nunca estadistas. Liguemos o rádio: cem músicas norte americanas, para oito cariocas e uma gaúcha, esta se muito. Assim é em todas as unidades da falsa federação. E... epa, este tema é muito longo, mania de ir mudando de assunto.

Hoje subsistem as amarras, econômicas e culturais,  com a lavagem cerebral a que o Sul, como toda a dita federação, é submetido pelas redes de comunicação desde São Paulo e Rio de Janeiro - cadelas norte-americanas -, devastando culturas regionais, idiotizando gerações de meninos pela falta de escolas com mínimas condições de formar homens - os seus filhos vão para a Europa estudar, quando não vão lamber as botas do império do Tio Sam, assumindo a sua identidade sangrenta à moda de Aristóteles, não é?, e com seus faustões da vida, mas já não se fala em separação, a elite conservadora gaúcha conseguiu o que queria e mostrou na infame traição de Porongos, exemplo mais gritante do que fizeram com todos nós.
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Apenas comemoramos aquele significativo momento da nossa história, pelo sonho do que  poderia ter sido. Nada mais, o sonho perdido apesar de tanto sangue derramado em uma guerra perdida ao vil metal para poucos. Alguns, entre estes Bento Gonçalves, não compactuaram com a deposição das armas, com baixar as calças em Ponche Verde num tratado de manter as aparências. Fomos vendidos como gado, em troca de benefícios localizados de outros acordos, que, na época, por falta de vão de escada, se firmaram atrás de um cercadinho de porcos. Até hoje os vemos, os benefícios para meia-dúzia, e  os malefícios para a nação dos gaúchos.

Em sonhos ficou também a República Juliana, ah, aquelas catarinas...

Hoje é feriado no Rio Grande do Sul, a principal data do nosso calendário. Festejamos o sangue da multidão de anônimos, negros, índios e peões, que ensopou os nossos campos e serras, nossos riachos e matagais.

O nosso povo segue esfarrapado. Só não sumimos do mapa, guaranys, charruas e os indefiníveis "gáutios", graças aos mais sofridos recentes imigrantes, não à sua elite cruel, agora miscigenados.

No vídeo, o legendário cantor gaúcho Leopoldo Rassier, com Sabe moço, de  Francisco Alves. A milonga pampeana diz muito mais que todos os discursos dos nossos dirigentes de  fala mansa, com esparsos e fingidos arroubos de hombridade, maldosamente cordatos no comando de lares humildes devastados pela ignorância e todas as pestes dela advindas, a fome, a submissão...

Esses nossos dirigentes, covardes herdeiros e heróis com medalhas das mesmas mentiras, têm os dias contados. Ora vão pastar, seus filhos da puta, o  relógio do tempo agora corre a nosso favor. Quando chegar a hora, não iremos esquecê-los. Mesmo que há quase dois séculos insistam em nos desarmar, alguns  de nós ainda sabemos fazer cordas, e saberemos enquanto houver um mato, uma sanga e um boi pastando o verde do pampa. E meu caalo!

Estas mal-traçadas de repente se tornaram pesadas, o mundo sulino ficou escuro. Vamos clarear, amenizar a dor. Temos um bom assunto, o lembramos ali em cima, ao citarmos um cantor gaúcho. Em breves palavras.

Esse gaúcho cantor, Leopoldo Rassier, vindo de família abastada, rica, em vida honrou o espírito comunitário dos humanos mais elevados, nunca se deixou seduzir pelas facilidades da injustiça. Chamado de maldito comunista para cima, em rodas de altos assassinos e ladrões de gabinetes. Isso em tempos em que a palavra comunista parecia não advir de "comunidade", e sim de um indivíduo comedor de carne de criancinhas ao espeto, pelo new deal do invasor com o auxílio dos antipatriotas por dinheiros na penumbra de vão de escada, agora sim existentes os vãos, de palacetes construídos com aquele sangue sujo de terra dos desgraçados.

No fundo havia mais um motivo, para além da sua vocação de liberdade e da sua revolta diante de injustiças. Além de ser o maior cantor dos gaúchos, amigo do peito de machos destemidos, os bandidos viam nele outro defeito: as mulheres dos ávidos e maliciosos vendilhões o adoravam. As do povo nem se fala. Todas. As casadas do seu círculo de amizades com respeito, bem-amadas que eram, admiração dita na sala abraçada ao marido, este outro que sai da frente, homens de bem não são ratos, é mano a mano, tudo dito na cara. Mas as dos bandidos, pobres coitadas... E as solteiras, então, e a inveja corroendo suas almas podres, as deles, claro.

E Leopoldo, chineiro como só, bem, não sei se podemos dizer isso... Azar: ele era adaga de ferro, punhal brilhante em noites estreladas, alegre e amoroso, o valente não podia ver um rabo de saia que nunca mais sossegava o pito, se preciso levava cerca de arame nos peitos mas encontrava a dama. Dos nossos.

Oigalê china lindaça! Aqui damos um talho grande na pinga, de arder os olhos, ao lembrarmos do boêmio comunista, taura culto e in natura, árvore de raiz perene, terrunho.

Salud, paisano. Se houver chinocas aí no céu, será como sugeriu o gauchaço Antonio Augusto: Nosso Senhor lá do Céu está frito, a população do céu vai aumentar vertiginosamente.

Por la sangre. Tintim.

(Em 08/12/2012: A pessoa que havia postado o vídeo no youtube o retirou, não sabemos quando nem a razão. Esperamos que não tenha sido pelo humilde texto acima, não cremos, imagine. Se a família do Leopoldo tivesse algo a opor, o retiraríamos imediatamente, o texto. Bueno, tem outro vídeo, embora sem palco com imenso público, emoção transpirando do público, este é de galpão, mesmo improvisado de material, na memória temos os galpões onde o vento assoviava pelas frestas das costaneiras, coisa  sem preço para nosotros que sabemos do que se trata,  AQUI).

Quem souber ou tiver vídeos, nos envie, por favor. O do Aqui, ali em cima, vai ao final deste.





 El sobreviviente:


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