sábado, 22 de septiembre de 2012

Miltinho e Zeca Pagodinho

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Dois caras muito falados neste blog, e no mundo inteiro. Um já velhinho, mas que ainda hoje em dia ilumina a moçada de mão firme na vida e no copo, com suas gravações "antigas", como se música tivesse idade, ah, Mulher de trinta, ah, Lembranças... Conheci Lembranças (Recuerdos) com um conjunto que eu pensava uruguaio, e era catarinense, Los Viñales. Eu era criança.

Como o próprio Miltinho dizia, quando andava de disco novo de sambas estilizados, sincopados, em shows pelo interior do Rio Grande do Sul (sim, Miltinho, a capital não diz o que somos), ao ouvir os pedidos em uníssono por algumas músicas: "Nunca vi coisa igual, vocês gaúchos gostam mesmo é de boleros, ai que gente amorosa, lindos!".

E começava: "Você, mulher, que já viveu, que já sofreu, não minta...". Para depois pisar, com o Sampaio: "Lembro um olhar, lembro um lugar, teu vulto amado, lembro um sorriso, e o paraíso, que tive ao teu lado...". O paraíso, Miltinho, que queremos e mora na nossa rua, no bairro, e vamos procurar longe às vezes. Que vida.

Falo do que ele falou porque eu vi Miltinho, vi sim, nos meus 11 anos, se contar ninguém acredita: eu o  vi por detrás de uma cesta ao alto, situado num canto de um salão de baile, propriedade dos bancários do Bando do Brasil, que à epoca detestavam as pessoas das cidades para onde eram transferidos. Achavam que passar em concursinho era sinal de que eram pessoas melhores que os pobres da minha cidade, e de todas.

Eu havia entrado por cima do prédio, meia-noite, como um ladrão,  me  esgueirando feito gato de tapera, se caio adeus minha mãe, mas não caí, assisti o baile todo. 

Os bandidos do BB levei 15 anos para pegar, por la vuelta, basta ler este blog. Os peguei sem juros pelo tempo transcorrido, nem pelo agravamento por ser eu uma criança ao tempo das maldades. Não queria ser como eles.

Peguei-os juntos, na medida, saíram gratos. De bravo, passei num concurso para o BB (10/80) e recusei, enfiem naquele lugar, judiei deles: foi só para mostrar àqueles insensíveis que eu podia. As crianças pobres das cidades, meus caros, merecem respeito, já que ajuda vocês não davam. Um dia conto como os fiz engolir uma piscina, paga com o do povo. Alguns dos meus melhores amigos, mais tarde, eram funcionários do BB, triste ironia, mas eram outro papo, voto vencido pelo esmagão de gente que pensa só em si, tal o medo da vida.

Mania de desviar o assunto.

Lá escondidinho, sozinho, decidi a mulher que um dia eu iria tentar namorar. Levou 30 anos, quanto tentei, eu já "abandonao", sem ninguém, ela já tinha 48, mas essa é outra história, do tipo errei, não sei, esqueci.

Foi um sonho. Miltinho era um homem feito, branco tostado de sol, vigoroso, cabelos pretos, educado, sem frescura, sem gritinhos, sério e respeitador. Um show de quem nunca precisou de cocaína, e alegre, sorridente, sem demonstrar o cansaço pela terrível tourné de todos os dias. Eu já tinha discos, ainda os tenho, se eu contar como os obtive merecerei o desprezo de vocês, ahahah, não, nunca roubei.

Jamais esquecerei: o homem cantando, belo, o baile paralisado ouvindo uma canção de amor. Os apaixonados marcando casamento à meia-voz, os indecisos descobrindo que possuíam um pedaço de coração.

Eu era perceptivo, lá de cima via tudo. Bobagem minha dizer isso, mas parecia mesmo.


Pois é, seu Miltinho, somos assim, a ferro, diferentes e iguais, com um pedaço de inferno que nunca termina, mas sonhando, em paz eterna com amigos como o senhor, que tanto nos marcou.

O inferno na Terra sempre tem um final, já a paz, a amizade, o respeito, consideração, jamais terá fim.

Maior é Deus, como diz o samba remetendo aos bem antigos, e repete o senhor desde menino.

Saúde a ambos, ao senhor e ao Zeca.

Tintim.




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