martes, 25 de septiembre de 2012

Dilma na ONU, na Charge do Dias

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Seis da tarde e os boêmios já lotavam o Botequim do Terguino, todos encasacados. Tempo bem louco, 13 graus e caindo, agora que estamos na primavera, até o amanhacer cairá a 5, disse Lúcio Peregrino, nótibuc aberto em sua frente.

Chupim da Tristeza: Pra mim essas variações bruscas, verão escaldante em pleno inverno, frio no verão, é culpa da motosserra. Aliás - volta-se para o Lúcio -, como foi hoje a votação do  Código Florestal?

Tigran Gdansk, último a chegar, ainda se acomodando, examina os copos dos demais empinantes e diz: Salta uma caipirinha pra mim também, Portuga.

Lúcio Peregrino: aprovaram o Código tal como veio, agora é com a Dilma. Pera aí, vou repassar as principais notícias:

- Uma pesquisa nacional diz que Porto Alegre, junto com o Rio de Janeiro, é o paquiderme do Brasil: tem 27 Secretarias Municipais, um horror.

Carlinhos Adeva o interrompe: putz, é para dar emprego aos coligados, de graça os caras não apoiariam, e isso que em 2008 eram só quatro ou cinco partidos que ganharam. Agora os que ganharam vieram com nove.

Quer dizer então que se o Fortunati ganhar vamos passar a ter 54 secretarias?, tomara que botem a Secretaria do Meretrício, cutuca o Contralouco.

- Um cineasta amigão do José Dirceu está fazendo um abaixo-assinado para reclamar do Supremo Tribunal Federal antes mesmo do julgamento, diz que se sente ameaçado como cidadão. A notícia está aqui, pessoal, mas confesso que não entendi qual é a dele.

Gigolô da Embrafilme! - vocifera Aristarco, deve estar devendo obrigação com o nosso, esses caras não tem vergonha na cara.

Gente, se vocês vão ficar interrompendo não vai dar, vou ler mais algumas:

- A senadora do DEM-ditadura pegou o guia telefônico e deu de telefonar para as pessoas, à cata de votos para a Manoela Namorida, só que não é ela, é uma gravação.

Gravação não vale, ora, como é que a gente vai mandar uma gravação à merda? Ops, desculpe, Lúcio, vai em frente, disse o Contralouco.

- O Fortunati andou fazendo a mesma coisa.

Contralouco: Pra homem em vez de mandar a merda eu diria outra coisa...

Eu ia falar da Dilma na ONU, mas desisto.

Clóvis Baixo se adianta: epa, Lúcio, essa eu assisti em casa de manhã, deixa que eu conto, esses jornais aí mentem demais mesmo, é tudo direitoso. Seguinte: às 10:55 h em ponto a nossa presidenta subiu no púlpito e abriu a reunião: "Senhor Presidente da Assembléia Geral...". Meninos, me deu um frio, era se como fosse uma irmã ou filha da gente que fosse se apresentar, dá um nervoso. Ela falou por 24 minutos, marquei, e todo esse tempo sem olhar pra nenhum papel, assim, no peito e na raça, sem se atrapalhar, e acabou com eles!

Como assim acabou com eles?, pergunta Gustavo Moscão.

Ora, acabou com eles, o mundo sifu do primeiro ao quinto. Primeiro que disse todos os que andam perseguindo a religião dos islamitas não passam de uns bunda-moles covardes, depois defendeu uma Palestina livre e independente, mandando a judéia parar de prejudicar e matar os palestinos. Nessas alturas a assembléia inteira dê-lhe a aplaudir, mas ela não queria saber de aplausos, seguiu firme, sem folga, isso de aplauso é para os caras que vão lá dizer o que não sentem, ela deu a entender que não queria aplauso, queria isto sim que algo fosse feito, sempre através da ONU, insistiu, que é a única instância autorizada.

Contralouco: mas bah, tchê, esse discurso eu queria ter assistido, pagava pra ver, por que não me avisaram? Dez a zero pra Dilma, conta mais...

Bem, em seguida caiu de pau nos terroristas financeiros, os donos de bancos e outros bichos, só não chamou de filhos da puta porque não é mal-educada como eles. E já xingou os caras que manipulam as moedas pra atrasar as nossas exportações...

Oigalê índia buena, não nega a raça!, grita Gustavo Moscão.

E tem mais: falou que esse negócio dos americanos invadirem o país dos outros dizendo que é para ajudar é puro fingimento, eles vão lá é pra se avançar nas riquezas daqueles países humildes, por isso que tem a miséria na África. Bombardeou os países que possuem terríveis arsenais de armas: as pessoas precisam é de comida! Disse isso na carinha dos americanos, os cadelos enfiaram o rabo no meio das pernas.

Parou e tomou um gole da sua caipirinha.

E depois?, perguntou Wilson Schu.

Bah, ali eu tava emocionado e fui fazer uma caipira lá na cozinha, com o ouvido preso no discurso. Vi que ainda sentou o pau nos americanos de novo, para largarem o pé de Cuba, aquilo de embargo não se faz nem pra cachorro-louco. Ela disse de boca cheia que judiar dos cubanos desse feitio era uma pouca-vergonha, um crime.

Quanto voltei da cozinha tava entrando para falar o presidente dos americanos, todo metido a artista de cinema, esse a gente nota de vereda que é político profissional mesmo. Mas não era mais negão, tava branco da carraspana que levou da Dilma.

Contralouco infla o peito e dispara: Nunca chamei e sei que não devo chamar, mas se quiser eu posso chamar a Dilma até de puta! Cosa que nunca foi. Ela sabe que é discussão de quem quer a mesma coisa. Mas que um americano desses toque nela, que qualquer um escoste nela... que diga um aizinho errado pra ela, pra ver o que é bom!

Wilson Schu exclama, levantando de copo levantado:  Viva a Dilma! Um brinde pra presidenta do Brasil! 

Ruidosos gritos com arrastar de cadeiras: Tintim!

Aristarco, com todos já sentados: Amanhã já estarão de novo às turras com a presidenta...

Clóvis Baixo: Sim, mas nas internas, briga de família, meu, familiar pode, te faz... tu não?

Aristarco num arranco se levanta com o liso de fada-verde na mão: Eu sim! Mais um brinde!

Tudo de novo.

Depois, o Contralouco falou de voz amena, quase triste, não tivesse a voz máscula tão bonita: Eu só reclamo que às vezes ela é meio burrinha. Eu aqui nesta maleza e ela não me contratou para segurança. Já pensaram?, eu de federal entrando na ONU com o tresoitão e a minha adaga embainhada nas costas, por cima do terno, os rambos dos americanos iriam se apavorar. 

Depois dessa, resolveram escolher as obras do dia. Antes das escolhas, passou no bar um mágico, que fez com que surgisse uma obra de depois de amanhã, dia 27, do Pelicano.


Passado o inusitado incidente, os boêmios partiram para as obras do dia. Ficaram com o Amâncio, do Jornal de Hoje (Natal, RN).





E com o Tacho, do Correio do Povo (Porto Alegre, RS).



  
  
Leilinha Ferro escolheu a obra do cearense Newton Silva. Pois é, dizem que certo instituto de pesquisa quer embolar o meio de campo por lá, como é de seu feitio.



(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos dias se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), devido a dívidas com o sistema bancário, ou agiotário, como eles dizem. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro)



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