sábado, 4 de agosto de 2012

Roberto Gurgel e Chico Buarque

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Um dos grandes poetas musicais da minha geração veio de ser lembrado pelo Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, que após pedir a prisão do José Dirceu e de outros meliantes, imediata ao veredito, encerrou sua arenga com um excerto do famoso samba Vai Passar, do Chico: Dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações.

Da minha geração, bem entendido, quer dizer que quando Chico gravou A Banda andávamos de calças curtas, molequinhos, eu e os pobres de paris lá da Vila Nova. Talvez por isso não tenhamos morrido na guerra, mas tentaram nos matar em seguida, na moral e cívica de ursos sanguinolentos e cegos. Muitos morremos aí, com a cuca arrebentada.

Foi sensível o Procurador Roberto Gurgel. Aliás, sensível e arguto, com a sorte, de que faz bom uso, que a natureza lhe premiou: tudo o que os réus gostariam é que fosse um gilmar mendes da vida, cheio de arroubos de filhinho-de-papai ou de chicoteador de senzala, odiento, dado a enfrentamentos de galos brancos de briga... com os escravos desarmados.

Nada, a calma do homem, o Sr. Roberto, lendo a acusação, fazendo aquilo por que o pagam, sabendo que o cargo que ostenta é muito sério, firme que a Pátria é maior, mão no coração diante Dela, desarma os incendiários irresponsáveis.

O samba foi composto para a ditadura, no terrível inverno de vinte anos dos podres milicos, inverno que se instalou na alma da nossa sociedade de crianças sem escola nem filosofia. Sem bóia e sem saúde, sem nada. O Povo da Escuridão, que aplaude Lula como aplaudia Médici.

Ah, o Chico. Que hoje apóia o valente humanista Marcelo Freixo, jurado de morte, no Rio de Janeiro (Tarso Genro vai com os bandidos do Lula, foi ao Rio gravar declaração de apoio aos referidos).

O Chico, que também se decepcionou tanto...

Aqui lamentamos e lamentaremos eternamente que os ladrões do governo Fernando Henrique não estejam na cadeia, pois roubaram muito mais. Venderam o Brasil. Eram e são pessoas experientes nesse ramo.

Enfim, se o "companheiro de armas" que mal as pegou, se as pegou, o consultor de vendas de segredos nacionais, o amigo de ricaços bandidos, o bebedor de vinhos de cinco mil, o trouxa que anseia por poder ditatorial, for trancafiado, será um começo.

Só discordamos do Procurador-Geral quando se refere à prisão, pura e simples. Os verdadeiros criminosos jamais irão para a cadeia, você sabe, mesmo em tribunais temos cúmplices de bandidos, uns, pelas suas crenças no pior que Aristóteles nos legou, outros por sórdidos de alma, covardes. Mesmo que os réus fossem encarcerados, defendemos que para o José Dirceu não. Não é justo, Roberto Gurgel. Escrevemos isto sem paixão.

Para ele a prisão tem de ser em manicômio, os sofrimentos do período ditatorial - sejam estes por qualquer coisa que não pelo narciso contrariado, afetaram-lhe o cérebro de modo irremediável, afinando-lhe as mãos para fazer fortuna, o que muito nos condói, não precisava ter sido assim. Perdeu a noção do que combatia.

Uma cela em manicômio é o melhor que podemos fazer em respeito ao ser humano, o menino que desejava igualdade, que ele foi um dia, antes de cortar o rosto, trocando-o por cera, tornando-se um bicho falante, lá atrás a maldade e a perspicácia dos doidos. Convincente para os fanáticos que também levam algum sem trabalhar.

Pedimos aos membros da Suprema Corte, subscrevendo as palavras do Procurador-Geral no restante, que se possível lhe dêem o tratamento digno que não têm os internos do hospício de Porto Alegre, sucursal do inferno de inocentes, isso nem bandido merece, mas que, por mais luxuosa a mansão em que o trancarão, não se olvidem, pelo menos, de jogar a chave fora.

Haveremos de pegar os piores, os do lado de lá, no seguimento. E a pena que pediremos será outra, muito diferente.

Por ora... o samba. Vai para a moçada do Botequim do Terguino.




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