viernes, 20 de abril de 2012

Reflexões desconexas em um mundo sem sentido

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Pescamos no Amazonas em Tempo uma instigante crônica. Isso sim é o que se pode chamar de "direto ao ponto". É do Mário Antonio Sussmann.



A humanidade não motiva otimismo. No Jardim do Éden habitavam Adão, Eva, Abel e Caim, 25% homicida. A versão “no sétimo dia descansou” talvez seja “cansou de tantas não-conformidades” (ISO 9000) que foi embora.

Em Israel, este ano, ultraortodoxos vilipendiaram menina de oito anos por não estar vestida adequadamente. Quem consegue ver “roupa provocante” em criança de oito anos deve ser recolhido definitivamente a manicômio porque incurável.

A tragédia em Toulouse, França, responsabilidade de “suposto” assassino de origem norte-africana, será esquecida, são tantas que dificultam a memória. (Virou vício de linguagem antepor “suposto” ao que se tem certeza. Mais um pouco e “Fulana está supostamente grávida”. O Brasil é habitado por supostos honestos).

Cada homicídio diagnostica células cancerosas da metástase moral e ética da humanidade (Moral, saber o erro; Ético, não cometer o erro). Ainda que artificialmente divididos em países, cor, crenças, somos unidade.

Uma das piores drogas é o pano que toma a forma de bandeiras e causa tragédias até no futebol. (Certa vez participei de reunião onde se discutia o que fazer sobre manifestações que queimavam bandeiras de Israel. Sugeri vamos vender bandeiras para eles. Dispensado, foi o que me pareceu lógico. Porque sou “libertador”; sem seguidores só posso libertar a mim mesmo da irracionalidade).

Verdade ou mitos, religiões que ficaram aquém do fanatismo contribuíram positivamente na História. Descobrimos que o culto agora exige como templo a casa da moeda e a oração é o dízimo. Certo, dá quem quer e bolso de otário é nas costas de cabeça para baixo. Defendo que a principal oração de qualquer crença é a conduta. O resto, quase sempre, é burocracia da fé.

Em “Nada de Novo no Front Ocidental”, Erich Maria Remarch narra sobre dois inimigos que caem desavisadamente na mesma trincheira. Hesitantes em atirar um no outro descobrem afinidades e constroem o que se poderia chamar amizade em insólitas condições. Se prestarmos atenção, todos nós caímos em alguma trincheira e não devemos agredir por reflexo.

A desagregação não é recente. O stalinismo, em setembro de 1939, partilha a Polônia com o nazismo, em junho de 41 a União Soviética é invadida pela Alemanha, o bom se torna mau e vice-versa, como mostraria George Orwell, “1984”, ora desmoralizado pelo BBB.

Pessoas inteligentes bloqueiam, ontem e hoje, o funcionamento cerebral. (À maneira de Woody Allen, não gosto de escutar Wagner porque toda vez fico com vontade de invadir a Polônia). Pessoas renunciam ao pensamento e todos sabemos que pensar não dói.

A divindade final é o iPod (ei, revisor – ainda existe ? – sem h depois do P, assim valeria a pena). Dá-se dízimo para receber mais e se recebe mais para comprar o I-Pod da semana. A pior escravidão não é a que aprendemos a suportar, mas aquela da qual nem temos consciência.



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