viernes, 23 de marzo de 2012

A Barbara Gancia, o múmio, o filho do ricaço e o advogado na Charge do Dias

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A jornalista Barbara Gancia (Barbara Maria Vallarino Gancia, São Paulo, 10 de outubro de 1957 - foto) quase encerrou o assunto do riquinho corredor, hoje em sua coluna no jornal Folha de S. Paulo. Não encerrou porque o sistema é muito pior do que foi dito.

Antes dela um fisósofo de bacanos sonsos, na mesma Folha, campeão em pinçar aqui e ali escritos e pensamentos para chegar a lugar algum, para explicar o caso, como é do seu feitio, buscou arreglo até em Nietzsche. Chegou a lugar algum, claro, com suas pífias lições de almanaque, mas no fundo sugerindo que a culpa é... minha, ou sua, nobre leitor, ele escreve nós mas claramente está fora dessa, imagine.

O texto dela é simples, objetivo e realista. Realista nem tanto, como dissemos na abertura, a realidade é sempre pior nesses casos, mas não importa: dez a zero para a Bárbara, coragem e lucidez é o que mais precisamos no Brasil nestas alturas do campeonato, onde o time do arroz e feijão parece criar fôlego diante da equipe dos barões bem nutridos.

Ao texto. João  da Noite o leu em voz alta no Beco do Oitavo, sob os olhos de numerosa platéia de boêmios atentos. Destes o que corre menos voa, de tanto que viveram e choraram em banheiro sujo. Ainda vivem intensamente, mas o choro rareou, embora vez em quando saltem lágrimas quando menos se espera.

Bom-mocismo para o Oscar

VRRRUUUM! Os fatos se passam diante de nossos olhos na velocidade de um F-1. Numa rodovia, o filho do magnata Eike Batista não enxerga um ciclista que volta do trabalho e passa por cima dele. A cegueira chega a ser emblemática de nosso conflito de classes.

No dia seguinte, já está tudo ter­minado. As declarações são dadas, um teste de bafômetro é apresenta­do como troféu, o rapaz se entregou às autoridades espontaneamente.

Em um país em que os ricos estão eter­namente entregues à esbórnia, quem cumpre minimamente as normas acaba virando herói.

Não interessa mais a ninguém que o ajudante de caminhão Wander­son Pereira dos Santos tenha tido o corpo estraçalhado e a vida brutalmente interrompida. Ainda foi acusado por Eike Batista de imprudência. Nós já mudamos de página, esta­mos em outra.

Não uso "nós" para me distanciar, moralizar e apontar o dedo, não. Onde estão as testemunhas que vi­ram o carro chegando a um milhão por hora? Onde estão as provas da polícia técnica que podem nos di­zer a velocidade em que ele estava? Ninguém quer saber disso, eu in­cluída, porque quando olhamos pa­ra o rapaz o enxergamos como um pinti­nho molhado perdido na chuva.

O vimos crescer, filho da mulher que andava de coleira e trocou o marido por um bombeiro. Ele e o irmão, alunos do colégio alemão, de cara fechada nos desfiles de escola de samba ao lado da mãe, quem não se lembra? Cá entre nós, não há aí um embate terrível entre informa­lidade e rigidez?

Aliás, para o meu gosto, sobram componentes alemães na história: carro parcialmente alemão (que, aliás, já dormiu na sala de estar), educação alemã e, veja: quando Ei­ke diz que a presença de Wander­son, a vítima, na rodovia poderia ter matado outras pessoas, será que ele não está expressando o desejo de que o filho trafegasse em uma "au­tobähn"? Xerém está longe de ser uma via para se andar a 300km/h, estrada brasileira é coalhada de pe­riquito, pedestre e patinete -imagi­no que Eike saiba disso.

E não importa quanto dinheiro você tem ou se bebeu da cartilha de Bismarck e Metternich. Deve ter um mínimo de bom-senso e resistir à tentação de compensar com brin­quedinhos como um carro com motor de F-1.

Moleque tem pinta de He-Man, nome de Deus escandinavo e anda por aí com um modelo de carro do qual existem apenas 3.500 cópias no mundo. Isso aos 20 anos. O que ganhará quando fizer 21? A feira de um Airbus A380? A feira de Le Bourget inteira? Em nenhum lugar do mundo você consegue fazer o seguro de um carro esportivo da cilindrada no SLR McLaren para ser conduzido por pessoas com menos de 25 anos.

Quando olhar para trás, o que Thor terá aprendido ao levar em conta a rapidez com a qual este capítulo de sua vida foi encerrado?

No Livro "A Fogueira das Vaida­des", o milionário de Wall Street, Sherman McCoy, é massacrado por fazer a coisa errada em uma si­tuação de atropelamento. Em vez de ir às autoridades e contar a ver­dade, ele peca por omissão.

A família Batista escolheu a estra­tégia inversa. Colocou Thor na li­nha de frente desde o primeiro mo­mento. Mas o ambiente controlado em que a exposição se deu, com se­guranças barrando o caminho da imprensa, o pai falando pelo filho em tom arrogante e culpando a víti­ma sempre que pôde e a voz de Thorzinho ocupando todos os es­paços do Twitter nos fazem crer que estamos diante de uma ence­nação épica de bom-mocismo.

Tomara que o Ministério Público esteja à altura do desafio.

Ponto. Fechado com chave de ouro. Essa frase do "Tomara que esteja à altura" diz mais que milhares de páginas. Os boêmios tiram o chapéu para a grande jornalista, ah, se todos fossem iguais a você...

O primeiro a comentar foi o Contralouco: Pera aí, ela não falou da polícia. Afinal, liberaram ou não liberaram o carro na hora, com o coitado lá todo despedaçado na rodovia? Já prenderam os caras que liberaram? Ora que o advogado "promete" não mexer no carango, que merda é essa... por que diabos o adeva achou que o bólido não ficaria seguro com as autoridades? O que diz agora o velocímetro? Despedaçou o sujeito a 70 por hora? Será que daqui a pouco não vão dizer que o ciclista estava drogado? Vai que tomou uma injeçãozinha durante o translado ou mesmo lá no necrotério. O Ministério Púbico acompanhou a autópsia? Ou tava tudo liberado, como o carrão?

Ninguém responde. João da Noite corta todo mundo, como foi ele quem leu a coluna, acha que tem o direito de falar primeiro (segundo reclamação de Mr. Hyde, que ficou emburrado, trocou de mesa, indo lá para a frente, de costas): aqui todos sabem que detesto esse advô famoso que defende o marajácuzão, mas não me julgo suspeito para falar. Vejam só: para que o Elke Maravilha precisa de um generalzão desses? Ares de acima de qualquer suspeita... virou ministro da turma do Lula-baixa-as-calças, como diz Salito. O que fazia antes? Defendia sonegador, seus otários, o cara enricou defendendo os que matam o povo roubando o tesouro de todos. Via o assalto, sabia tudo,  e os defendia. Esse é o cara. Isso dá dinheiro, leva em percentagem do auto de infração, mais o crime, acho que ele que bolou aquele artigo 14, de soltar se pagar antes. O finório ainda não está podre de rico? Claro que tá, já nasceu assim. Por que então não vai ser hipócrita em casa, não cansou daquele papo de direito de defesa, enquanto embolsa milhões? Se aposenta, urubu, vai para casa, chega, o Brasil agradece os bons serviços prestados aos bandidos, sai, chulé! E João levantou-se bruscamente em direção ao banheiro.

Lúcio Peregrino, rosto e voz torcidos em ironia: caros amigos, vamos mudar de assunto, pombas, olhem só o João, foi chorar no banheiro. Está claro que o elemento se suicidou. Gentalha, bebum e drogado. Aliás, fizeram teste de drogas no motorista, ou só bafinho? Se bem que há drogas não detectáveis em exames, o modo de encarar o mundo é a maior.

Uia!, exclamou Açafrão, outro filósofo!

Mamma mia, João se apoderou da palavra, apelando para expressões chulas, raivoso... Vá lá, é certo que o ambiente era de revolta, mas João deve ter bebido além da conta. Recupera-se depois, tem bom-senso. Espero que não o processem, afinal só chamou o advogado de hipócrita, não deve dar nada. Pensando bem, nunca se sabe, o dinheiro compra até..., deixa pra lá.

Nada tem a ver com o caso, mas também não gosto desse advogado.

E os outros se meteram, o Contralouco começou a narrar um caso idêntico sobre o filho de um lalau que foi seu patrão, o Tigran Gdansk prometeu uma palestra sobre "Como se fica rico no Brasil" que iria arrepiar todo mundo, e lá ficaram batendo boca.

E a coisa preteou, aí sim haveria processo. Só processam quem diz a verdade quando há repercussão, vai que haja, por isso paramos aqui. Não que João, muito menos este que redige as mal traçadas, tenha medo de mais um processo. Mas isso irrita, dá vontade de resolver do jeito que eles não gostam.

Aliás, o nosso tempo é precioso, já que não somos empregados de nenhum ricaço com probleminhas idênticos aos dos políticos broxuras, então vamos logo à Charge do Dias. Não é difícil adivinhar as escolhidas pelos empinantes.

Leilinha Ferro - que só empina água mineral Sarandi - tinha que ir ao banco, escolheu primeiro. Ficou com o grande Zop.




Os companheiros do Botequim do Terguino com o Marco Aurélio, de Zero Hora (Porto Alegre, RS).




E o Beco do Oitavo fechou todas com o mestre Aroeira (a segunda ou terceira postagem mais vista deste blog é A Charge do Dias - De Aroeira, só perde para A praia do Hans, mas o verão passou...).



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