miércoles, 4 de enero de 2012

Sob um céu de blues

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Este blog começa a dar espaço aos boêmios mais próximos, sempre que se encorajarem. E boêmias. Todos do Beco do Oitavo.

Começamos com a Piqui (Ediane Gheno, Putinga, RS, 2/7/1982), formidável poeta e atriz. Honrados por nos permitir a reprodução, Piqui, assim no amor (sabes que estamos durango kid). Besos.


Sob um céu de blues

É chegada a hora. A hora exata sempre chega. Quando menos esperamos por ela, eis que surge sua magricela sombra pelo ar. Um envelope atravessou a porta. A porta, oca e sem cor, jamais saberia o conteúdo daquela missiva. O segredo se consumava naquele momento.

Correntes de ar frio seguiam espalhando-se pelo corredor. As paredes umedecidas escorriam suor pela labuta de existir. Sempre paredes. Sem cor e sem cheiro definido, mas restavam ainda marcas obscenas da vida cotidiana. A mão trêmula apanhou aquela forma insegura levando seus olhos aos quatros cantos do envelope. O destinatário não emitia dúvida alguma que aquilo a pertencia. Selo com a imagem de...

Por um instante a memória apagou-se por inteiro. Vagando horas por infinitos labirintos lembrou-se da mãe. Mas a imagem se desfez num instante. Voltou a si. Pouco a pouco abriu o envelope por inteiro.

Naquele momento os olhos pareciam vagar como um velho barquinho de papel sobre a água. Seguiam as palavras em movimento de ondas. Lutava impunemente com a fúria daquela tempestade de significados. Apertou em seu rosto o papel envelhecido. Jamais imaginaria que aquilo era verossímil. Não! Não! Não pode ser. Um suor caiu-lhe pela face... deitado no divã via tudo girar. No divã as coisas... metamorfose. Acordou, olhou para o lado e sorriu. Um papel envelhecido, com belas letras desenhadas.

Ergueu-se num átimo. Levou a carta a boca e a beijou. O amor restava-lhe ainda, naquelas letras de marfim.

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