martes, 3 de enero de 2012

Jamais - O amor por Elizeth

.
Olhe no que dá a gente ser criança, Jards Macalé.

Mire, João Adalberto da Noite, agora que enfiei uns conhaques que há séculos não entornava, por motivos ruins. Calienta demais o coração.

Falei na Elizeth Cardoso Valdez. Eu ia casar com ela, juro que eu ia, mas ela tinha 40 e eu 6. Nem foi pela idade, um dia eu teria 26 e ela 60, mas a droga é que eu morava lá no rancho fundo do rio grande do sul, bem pra lá do fim do mundo, como disse Ary. E numa miséria da brava, nem conhecê-la pude, salvo pela foto meio rasgada de uma revista que um automóvel jogou fora ao passar por aquelas lonjuras.

Vi a trezentos metros, larguei o ancinho e caminhei até a estrada. Página que guardei, meu bem mais precioso. Eu falava com ela em pensamentos, ouvindo rádio de madrugada.

Quando consegui botar o pé no Rio de Janeiro, com 38 anos, sentei no Amarelinho e pedi um chope levantando o chapéu para ver melhor o bar às seis da tarde, já homem mais que florete, peso sobre o coração, ferro 38 sob o lado esquerdo do casaco, e o jornaleiro de O Dia passou anunciando e mostrando a capa, estampada em garrafais, que ela tinha morrido.

Depois desse dia, segui elaborando magias com cartas, mas nunca mais cri em sete belo. Ainda adoro estações e todos os meses, exceto o mês das noivas. E não me atraso mais com os amores que Deus me dá. Desarmei-me.

Coração leviano, este sofrido meu, pois antes já havia me apaixonado pela Libertad Lamarque, mas aí não conta, eu era muito mais novinho. Nunca contei para ninguém, mas eu também tinha uma queda muito forte pela Nora Ney, a voz dela, mas morria de medo do seu Jorge Goulart, se ele soubesse do tesão que eu sentia no escuro.

Cresci um pouco e as mulheres vieram em torrentes. Famosas, cantoras, só de castelhanas perdi a conta (gostei da Amelita Baltar, aquele jeito de fumar pensativa ninguém tem, e somente a cito porque nada tivemos), depois gentes só de aparência: grandes jornalistas, cantrizes, advogadas, piradas, estudiantes, empresárias, politiqueiras, sincerinhas aqui ó, doninhas de casa doble aqui ó, um sem fim de tudo igual.

E hoje, desacreditado de azar, como falou Paulinho, ao ver-me horrorizado no espelho, eu e meus olhos vermelhos, fico sem jeito, será que me perdi?

Nestas horas recordo aquele sete de espadas de um maio terrível. E penso em Elizeth, meu grande amor. E a ouço falar comigo por um imaginário rádio antigo, pelo preto e branco daquela página rasgada: "Nada de tristeza, meu menininho, vai em frente, agora é que vai ficar bom, tua namorada mamãe olha por ti".

Vou, mãe.



No hay comentarios.:

Publicar un comentario