sábado, 3 de diciembre de 2011

O troço, n'A Charge do Dias

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Sábado principiando ruim no Beco do Oitavo. A turma incompleta: faltaram três. Piorou mais com a notícia de que Pedrinho da Cruzeiro está pela sete no hospital da PUC. Logo onde.

Nem parentes podem entrar. Gustavo Moscão se levanta vermelho e diz que vai em casa pegar a arma, esses padrecos vão ver. O deixa-disso surge de todos: "Pára quieto já", grita nervoso o Contralouco. Empurrado por oito pares de mãos, ele senta soluçando. Os demais retornam às suas cadeiras, e ficam olhando para o fundo do copo... pensando no Pedrinho e em si mesmos.

Nisso pára um carrão alto com vidro negro, igual ao do Edmundo, animal hijito bêbedo ao assassinar gentes, placas de Pontagrossa, tenta estacionar, erra, adianta o bonde, tenta de novo, dá ré, derruba a bicicletinha da Carolina, volta, tenta, enraivece, rúmmm, mal, não dá certo.

João diz que admirava, ainda despreocupado.

Nada se vê lá dentro, e o carro arranca sem sair, ruge, finge arrancar, Rúmmm!, ruge!, apavorando as crianças que jogavam sapata na calçada, até desligar, estacionado a um metro do meio fio.

O sujeito só porque é hijito de pápi, me disse João Adalberto, um Eikezinho que pensa que dirige caminhão e pessoas sem voz, empurrava o acelerador com o pé na embreagem,  para depois o golpe no espaço.

O jogo de amarelinha interrompido, uma bola branca com estrelinhas azuis correu feliz para o meio da ruazinha estreita que é o Beco do Oitavo. O sujeito vira a chave de novo e ruge, ruge! João levantou e correu alucinado aos gritos... ai que a moreninha da beirada corra atrás da bola estrelada.

Desce uma loira e um alemaozão. Ela uns 30 anos, chapéu de "vaqueira" texana, calça brim-coringa ("jins", para ela), mal tapando os pelos que depilou na frente, nas costas o rego à mostra, com uma tatuagem de borboleta e a inscrição "Ti amo". O sujeito de brim-coringa também, ele 38 ou mais, com uma camiseta escrito naique.

Silêncio no buteco. A janela bem a frente das crianças e dos recém... estacionados. E saiu o grito: "Vagaba!", da garganta do Clóvis Baixo. Um grito terrível, assustador.

João da Noite mal se recuperando, levantava o copo e estava se virando para censurar o Baixo com um olhar tipo não aconteceu nada, onde já se viu agredir verbalmente o otário, ele não pegou crianças, quando ouviu outro grito, forte e debochado: "Palhaço cara-de-cadela!". Do Contralouco.

O sujeito parou e olhou a mescla de velhos e moços, quase passou por cima das crianças com aquele pezão do corpanzil, no outro passo esmagou o Lula, o cachorro da D. Lili, e mirou  o pessoal com ar de desafio, querendo dizer posso tudo, e fez um cu com os dedos.

Mal pressentiu o vôo do Marquito Açafrão, que o pegou no meio do rosto com a canhota, um desastre. Uma vergonha, direita, esquerda, ponta do queixo. Um filme, ver o grandalhão com corpo de nadador da sogipa cambaleando para trás. Marquito com seu 1,70 quebrou o cara de 2 m em um minuto, e ao vê-lo esbodegado entre a rua e o meio-fio, sangue sujando a sua preciosa naique, lábios e dentes quebrados, olhos vidrados, largou o porco e voltou correndo para dentro do buteco, endoidecido, para pegar a adaga do Antonio Portuga, de cortar carnes pesadas na cozinha, para terminar o serviço. Todos o seguraram, sete contra um, com dificuldade. João se cortou ao impedi-lo.

Boêmios recalcados, disse João da Noite depois, muito abatido.

As mulheres da sinuca e da agência bancária do Marcolino Agiota alcançaram a loira lá adiante, na subida da escadaria, quase na Rua Formosa (que, por estranhas razões, hoje se chama rua duque de caxias). Ela caiu de joelhos - o que a salvou - e disse que tinha conhecido ontem o elemento, pelo Badú, só queria dar para um carrão, mostrar às amigas o bom papo e boa roupa, nunca o viu mais gordo. Levou uns tapas apenas, a texana.

Desta triste ocorrência, sabemos todos, de novo, meus amigos, o que não se deve fazer. 

Aqui na palafita neste instante entrou Frank Sinatra cantando New York, New York. La Gran Manzana. A voz do velho se estende inundando tudo, minha alma junto. Quem chegou que Kafil não avisou? Só pode ser um.

Ele, meu mano Carlito Dulcemano Yanés, aparece na porta, chapéu jogado para trás, rindo da minha surpresa. Louco. Abraços.

Um tempinho, Carlos. Ei, dêem bebida a Carlito, pessoal, não quero mais surpresas hoje.

Onde estava mesmo?

Depois os malucos escolheram a charge do dia (do Dias, homenagem a Adolfo Dias Savchenko, o sábio). Unanimidade, coisa rara que anda se repetindo, deu Miguel, do Jornal do Commercio (Recife, PE). Viva!, Miguel. Abriste o jogo atirando a sete no canto, de fiapo, daqui da meia-lua: cesta, e a branca rodou e pegou a cinco no meio, quase na reta, desviada apenas para afundar o ás no outro canto e dar a volta para parar diante da dois.



 Opa, o telefone. João. Volto logo, aqui se atende em gancho, em outra sala, para não virarmos cacaca.

De volta. Estávamos falando de quê mesmo, depois da horrorível história com os amigos do Beco? Ah... Pois é, o Botequim do Terguino, todos consternados, de prontidão, escolheu ao Frank, de A Notícia (Floripa, SC). 14 x 1. Esse um foi do velho Terguino, complacente demais, usando o amor e dor de Lupicínio com... isso. Registro porque Terguino Ferro é bom, raramente se pronuncia. Papo de perdedor. Vai ver domingo, o gremistão, disseram a maioria (oba, reinventando o português, tá, vai, disse, mas adorei o disseram) colorada.




Adolfo Dias Savchenko cansou. E com amargor aplaudiu em pé ao Duke, de O Tempo (Belo Horizonte, MG).



Bom, devolvo ao João a desfeita de escolher uma própria, fora das regras (e isso se encerra aqui). Salito se desfaz em elogios ao grande Simanca, de A Tarde (Salvador, BA), um livro dentro da obra.

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