domingo, 16 de octubre de 2011

Capiba

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Hoje, por alguma razão, lembramos do fantástico pernambucano Capiba (Lourenço Fonseca Barbosa, Surubim, 28/10/1904 - Recife, 31/12/1997), autor da famosa "Valsa Verde".

O homem fez de tudo, um músico completo. Musicou Garcia Lorca, Maquiavel e Vinícius de Moraes. Pra não falar nos frevos. Teve tempo para ser artilheiro do lendário Satélite, time do Banco do Brasil. Do Brasil..., se alguma vez esse banco foi do Brasil, nosso, faz tempo, décadas. Hoje os diretores são cabos eleitorais e... deixa pra lá. Ah, o Capiba. Sua maior herança de família foi a sinceridade, honestidade, pessoas respeitosas. Um cara desses merecia novelas, se tivéssemos redes nacionalistas, e não entreguistas e ladras.

Em 1929, Capiba ainda muito moço, com 25 anos, sabem o que inventou de fazer, na boa? Compôs um tango!, intitulado... "A Flor das Ingratas" (bem que fez, seu Capiba, pras ingratas aprenderem), e tirou o primeiro lugar num concurso. Poucos anos depois uma marcha chamada "Dona, não grite!", que algumas damas hoje tidas como cantoras fazem por merecer. Também é o autor de "Maria Bethânia", que o seu Nelson Gonçalves eternizou em 1944 e acabou dando nome a famosa cantora brasileira. É tão comprida a lista de clássicos que nos deixou, que só vendo no monumental Ricardo Cravo Albin, fonte em que bebemos, além de livros sobre a sua vida.

Aqui o pessoal, Zé e Zélia, interpreta sua "Amigo é Casa" (parceria com ele, eterno, Hermínio Bello de Carvalho). Ai que choro chorado lindo.





Amigo é feito casa que se faz aos poucos
e com paciência pra durar pra sempre
Mas é preciso ter muito tijolo e terra
preparar reboco, construir tramelas
Usar a sapiência de um João-de-barro
que constrói com arte a sua residência
há que o alicerce seja muito resistente
que às chuvas e aos ventos possa então a proteger
E há que fincar muito jequitibá
e vigas de jatobá
e adubar o jardim
e plantar muita flor toiceiras de resedás
não falte um caramanchão pros tempos idos lembrar
que os cabelos brancos vão surgindo
Que nem mato na roceira
que mal dá pra capinar
e há que ver os pés de manacá
cheínhos de sabiás
sabendo que os rouxinóis vão trazer arrebóis
choro de imaginar!
pra festa da cumieira não faltem os violões!
muito milho ardendo na fogueira
e quentão farto em gengibre
aquecendo os corações
A casa é amizade construída aos poucos
e que a gente quer com beira e tribeira
Com gelosia feita de matéria rara
e altas platibandas, com portão bem largo
que é pra se entrar sorrindo
nas horas incertas
sem fazer alarde, sem causar transtorno
Amigo que é amigo quando quer estar presente
faz-se quase transparente sem deixar-se perceber
Amigo é pra ficar, se chegar, se achegar,
se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer
Amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha
e oferece lugar pra dormir e comer
Amigo que é amigo não puxa tapete
oferece pra gente o melhor que tem e o que nem tem
quando não tem, finge que tem,
faz o que pode e o seu coração reparte que nem pão.



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