miércoles, 1 de junio de 2011

Tudo esclarecido

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Eu não escrevo mais uma linha sobre criminosos (evitei agora a palavra que começa com pol, notaram?). Nada, recomendação médica. Mas posso transcrever.
Meu camarada Juremil!, único, amado, sincero, profe, filô, cabareteiro, mundano, fino, francês, múltiplo, bom de cama, ama flores, falou. Ave.
Não falou antes porque estava dando um curso aos monges do Tibet. Ufa. Também, perder tempo com monges, pastores de nada, cosa de loco, tchê.
Depois de meses, acordou, agora que o páreo está corrido. Ele é Universal.
Sei que logo-logo começará a falar das praças de Espanha, JuRei.
Não me processe, Juremil, por me apoderar - transcrição ipsis-literis - desta obra-prima de sabedoria.
Sabe tudo.

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TUDO ESCLARECIDO

Tenho acompanhado atentamente o caso Palocci. O homem me espanta. Envolveu-se num escândalo, quando era ministro de Luiz Inácio, em que o sigilo bancário de um caseiro foi quebrado. Safou-se plenamente. Foi absolvido na Justiça. A culpa caiu nas costas de um dos seus assessores. Palocci foi ao fundo do poço, de onde voltou deputado e consultor de empresas. Em quatro anos, como agora todo mundo sabe, enriqueceu. O que ainda não se sabe é que serviços exatamente o consultor Palocci prestou. O governo e os petistas adotaram, porém, uma estratégia de esclarecimento dos fatos ainda mais impressionante do que o súbito enriquecimento do homem: manter tudo "nas internas". Segundo alguns petistas, Palocci tem sido altamente convincente nas suas justificativas. O único problema é que elas não podem ser divulgadas. A sociedade, claro, respira, enfim, aliviada.

O magnífico escritor argentino Jorge Luis Borges - a Argentina produz bons vinhos, ótimos jogadores de futebol e fantásticos escritores - escreveu que a realidade gosta de simetrias e de leves anacronismos. Acrescento que também valoriza suaves coincidências. Veja-se o caso da tal empresa WTorre. Entrou com pedido de restituição de alguns milhões de reais na Receita Federal no mesmo dia em que doou R$ 1 milhão para a campanha da candidata Dilma Rousseff, coordenada, coincidentemente, por Palocci, o qual, por simetria, também era consultor da WTorre, que (outra coincidência?) recebeu seus milhões da Receita Federal menos de dois meses depois, numa demonstração extraordinária de agilidade e de desburocratização do nosso Fisco. Já para receber uma restituição de R$ 250 costuma demorar um pouco mais. É operação mais arriscada.

Tem leitor reclamando que a casa da então governadora Yeda Crusius custou só R$ 750 mil e o barulho foi maior. Trata-se de uma simetria menos suave ou de um anacronismo, mas, sem entrar no mérito, que não sou juiz nem conheço os autos do processo, parece-me que um caso não absolve o outro. Na época, os tucanos ficaram tão convencidos com os esclarecimentos da governadora quanto estão satisfeitos agora os petistas com os supostos esclarecimentos do turvo Palocci. A única voz petista discordante é a do governador da Bahia, Jacques Wagner, embora ela tenha chegado a dizer que Palocci é um homem público, mas que seu enriquecimento não seria uma questão pública. Por enquanto, temos de reconhecer, é a mais privada das questões. Só os petistas sabem (ou imaginam saber) o que Palocci fez para encher os seus bolsos.

Eu estou convencido de que nunca na história deste país um mesmo ministro caiu tão rápido, enriqueceu tão depressa, voltou mais rápido ainda ao poder, envolveu-se velozmente em outro rolo e arranjou defensores tão ágeis. Só lhe falta um pouquinho mais de pressa em contar para a sociedade como ganhou os seus ricos milhões. Seria tráfico de influência? Sobra de campanha? Uma mão lava a outra? Caixa dois? Muito petista, defendendo-se das críticas ao mensalão, cansou de dizer que não houve, ao menos, enriquecimento pessoal. E agora? Nada. Está tudo esclarecido. Os petistas estão totalmente convencidos.

Juremir Machado da Silva (Santana do Livramento, 1962) é um escritor, tradutor, jornalista e professor universitário brasileiro. Vide Wikipedia.
(Transcrição de matéria do Correio do Povo, sem autorização).

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