jueves, 21 de abril de 2011

Ireno

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Ainda tonto com a paulada, registro a perda de um amigo. Encabulado, pois meus trinta amigos, que para mim valem tanto, tanto, não merecem tristezas minhas. Perdão. Relevem, só hoje. Aqui é madrugada de chuva fina. Abri um merengue, outro, e outro. E me vi chorando.

Um cara valente como poucos, e decente como poucos, para se defender e ajudar amigos se jogava de mãos vazias em punhais. Antes só tinha visto o Beto Maroso fazer isso, cinco caras de faca (muito valentes... de faca provocando gente limpa) e ele desarmado ir para cima voando, agora vâo ver seus filhos da puta. Pois é, Ireno e Beto devem ser amigos lã não sei onde.
Meninices.

Nunca pensava em si. Pensava, mas depois que todos estivessem bem. 

Um que, ao passarmos de a pé, madrugada alta, pelas escuras ruas dos cemitérios, ali por baixo do antigo Estádio da Montanha (Cruzeiro de Porto Alegre), nos altos, um morro que os padres abocanharam em negociatas com um bicheiro e com autoridades corruptas, e que hoje é lucrativo comércio onde clientes nunca faltam...  a gente caminhando pelo meio da rua, aquele inverno de gelo, de doer, os sussurros do vento que sabíamos, ouvido fino, que eram vozes, me disse, apavorado: morro de medo, Sala, não sei, mas só passo aqui porque você está junto, isso de almas... vamos correr, sair daqui...

Ao que eu, inseguro igual, respondi: nada, Ireno, medo temos que ter é dos vivos. Vivaldinos de nada. O perigo é encontrarmos os principiantes que um dia serão donos de tudo, esses podem nos matar à traição, nesse caso a gente corre, mas antes brigamos, e naquela hora o calor do meu 38 no lado esquerdo do casaco me deu mais forças, queria que um deles aparecesse, assaltantes de cemitérios, de televisão, os deputados, os gerdaus, todos os impotentes de tudo, almas podres.

Não corremos, nem os ladrões apareceram. Que sorte. Sorte de quem jamais saberei. Eu e Ireno descemos de lado aquele lançante enfumaçado, de costas um para o outro, pelo meio da ruela, até conseguirmos despontar na avenida do seu Grêmio. Acho que foi sorte deles, que mediram o perigo, eles que só entram à socapa.

Quinta-feira passada.

Ninguém teve coragem de me telefonar.

Até logo, gringo.

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