martes, 7 de septiembre de 2010

Caro Joaquim

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Caro amigo Joaquim Balaio Neves



Olá, amigo. Retornamos há pouco, tranquilos, tempo de sobra para cumprir o objetivo da pequena viagem. Artigas segue a mesma, mas remodelaram a fonte luminosa, o relógio da estação e La Plaza Ferrocarril. A próxima melhora será en el conocido Paseo 7 de Setiembre. Gratíssimo pela preocupação. Ficarei bem. Somente os mercenários pagarão o pato, Dani e Febrabo vão aguardar desde Miami alguma notícia, em alguma residência como a da Carmen, de quem falarei mais adiante. Vai ser assim: eu entro no Brasil por aqui, eles saem de jatinho lá por cima, tremendo feito varinha verde, os valentes.

Não precisava ser por e-mail, poderia ter perguntado por aqui. Sim, quando escrevo lamber as botas, chupar ahm..., e frases assemelhadas, sim, algumas vezes quero dizer a piroquinha. Acho divertido. Carajo!

Girando 180 graus: não, não sei que fim levou o frei Betto. Evaporou. Deve ter suas razões para manter silêncio. Dívida de gratidão? Sei não... Quando desejar ele terá espaço aqui neste humilde blog, para expor as suas razões (duvido que o faça), afinal ele ajudou a começar a nomenklatura. Ou não? Pelo menos não fez como muitos dos idealizadores do PT, que seguem lambendo as botas do Lula, e agora as, ahm, os picolés da Mad. Ou vice-versa.

A respeito do triunvirato da ditadura: bem lembrado, Joaquim. Seria uma honra ir para a cadeia por calúnia, injúria ou difamação, eu ficaria bem em um presídio de segurança máxima, mas eles não são loucos, as coisas mudaram. Se prendem e condenam um cara qualquer a esse pretexto, no outro dia a moçada periga brincar de quebra-quebra. E antes de tudo há a exceção da verdade.


Tampouco os grandes blocos de descomunicações, como a Globo, podem lidar com isso. É arriscado para eles: se com meia informação a imprensa do outro lado encarna e adeus, imagine com informação inteira. Podem esconder o corpo de delito, o vestígio fica.

A propósito, outro dia um jornal adversário, quase falido, relembrou a manchete que o jornal O Globo estampou no dia 1° de abril de 1964, tenebroso primeiro dia da implantação da longa noite da ditadura: "RESSURGE A DEMOCRACIA! VIVE A NAÇÃO DIAS GLORIOSOS".


O cara que escreveu isso certamente era um daqueles que depois iria prestigiar sessões de torturas, como o Roberto Marinho indo ao teatro, cabo de vassoura para empalar suspeitos que, indo para o trabalho, poderiam, talvez, ter viajado no mesmo coletivo que o poeta Marighela. Cantarolar um samba do Julinho da Adelaide já era perigoso.

Tentei rir, mas saiu um grito de ódio e terror, ainda não estou bem preparado para discutir esses assuntos numa boa.

Não, não vão prender ninguém, nem torturar. Menos ainda dar holofote para quem se opuser a eles, adaptaram-se aos novos tempos: a técnica consiste em fingir que não viu, não ouviu, não leu, não sabe. Fingir que você não existe. E quando eles querem você não existe mesmo. Em um passe de mágica levam à fama e à adoração popular um Tiririca ou uma dupla uivando sertanejo misturado com country - excelente gosto musical o deles - e com a mesma facilidade sepultam qualquer biografia.

Fazem isso com um intelectual da altura do seu Plínio Soares de Arruda Sampaio, famoso, notável humanista, diante do nariz de toda a nação. O pouco espaço que cederam nos seus veículos (veículos que são, sempre é bom recordar, concessões governamentais, do povo, mal havidas e depois estupradas) foi obtido na Justiça, a ferro, de outro modo as eleições passariam como se ele não existisse.

De certo modo, é o que está acontecendo. Se houvesse homens na direção do atual Partido dos Trabolas, que Plínio e muitos outros ora dissidentes ajudaram a fundar como Partido dos Trabalhadores, teriam colocado uma tarja preta em protesto no seu horário eleitoral.

Infelizmente para estes não se trata de construir um país, e sim de vencer, vencer, vencer, a qualquer preço, espumam sangue pelos lábios, esfregam uns nos outros as barbas que já não possuem, vão ao paroxismo, enlouquecidos ejaculam, abraçando-se com rústico prazer. O poder.

Penso nisso e me vem à mente a cena imortalizada por Costa-Gravas no filme Chove em Santiago, os múmios abrindo champanhes e festejando o golpe e o assassinato de Allende, o corpo ainda quente. Assistindo de longe aos festejos dos ricaços conservadores, o povo ignorante nos campos de miséria, levado à breca, também festejava não sabia o quê, com limonada.

No Brasil festejarão novamente a morte do sonho, com Romanée-Conti. Em outubro publicarei neste espaço uma exaltação à morte, dando os nomes dos principais homenageados.

Em veículo de monopólios, só soube de um Homem que registrou, de pronto, sua inconformidade com a morte em vida do Plínio, que foi o jornalista Flávio Tavares, no jornal Zero Hora, do famigerado grupo RBS no Rio Grande do Sul. Foi uma única frase, mas saiu. A trajetória do seu Flávio dispensa apresentações.


Em breve transcreverei aqui um pouco do que o Roméro Machado disse no seu livro Afundação Roberto Marinho, e o que eles fizeram para tentar barrar a publicação.

Viu, quando percebi eu estava falando de desaparecidos políticos, em vida. Os políticos vivos, que são de fato muito vivos, fazem de conta que são oposição enquanto assinam cartas em Recife e chupam as botas dos chefes do Meirelles. Mas no fundo são uns coitados, almas pobres, os imbecis.

Então, Joaquim, não me surpreende o que falaste sobre o âncora, ouvi qualquer coisa por aqui, um tal de Vilão Vaca (putz, Cara de Vaca já vi no conto do Ariosto de Oliveira, mas este é dose), não sei quem é, de há muito me repugna ligar a tevê em noticiários.


Se isso ocorreu, e parece certo que sim, dizes que está gravado, não foi apenas deselegante. Foi leviano, rasteiro.

O moleque que nos servia de chasque da casa da D. Polaca até a casa da D. Bastiana era mais sério. Bem, é má comparação, lupanar por lupanar os da Polaca e da Bastiana também eram mais sérios que a Globo. O funcionário precisa fazer jus à ética dos donos da casa. Esse chupa e engole botas. Deve estar disputando com o outro, o Bial, quem chupa melhor.

Isso ocorre, meu amigo, enquanto o transatlântico platinado navega em águas serenas, porém um dia vai fazer água, vai ter que parar. Ancorar. Em porto seguro não será, e aí a primeira coisa que farão será jogar a âncora no fundo do mar, entende, em seguida irão todos os ratos. Nessas alturas os tubarões estarão lá embaixo... Desde já me candidato a invadir e cortar a corrente da âncora, impelindo a nave em direção ao alto mar, ao raio que a parta, para evitar que algum dentuço, os ratos ou a própria âncora me subam ao convés e cheguem ao cais.


Depois vou procurar um bar dessa zona portuária e festejar até ao amanhecer, brindando com rum aos que já se foram e aos sobreviventes deste lado, que nunca se entregaram.

Quanto ao Fausto Wolff, acertaste em cheio. A fome nem é o problema, aquele se viraria fora do País se quisesse, mas patriota quer ficar na sua pátria, ora. O problema é que fecham os espaços para manifestação, da revistinha mais acanhada até as grandes televisões é tudo deles, um negócio inacreditável, purulento. Se o sujeito não vai pela cartilha deles, vira uma sombra. Não cabe todo mundo nas pouquíssimas publicações que resistem. Mais ou menos o que a gente falava ali atrás. Ele resistiu, não virou sombra e saiu-se bem, o Lobão era porrada. Brizolista até debaixo d'água, mas dizia na cara do velho que ele não sabia se assessorar, só se cercava de ladrão. Era assim o Faustin. Rimou.


Sobre o local em que moro no Burundi (contei AQUI como as coisas funcionam por lá, não deixe de ver), tem certos aspectos na economia que não me agradam. O W. Fraga Ladroaço, presidente da Autoridade Monetária da Rapina, por exemplo, leva 15% de todas as roubalheiras, é sagrado, no dele ninguém mexe. Lembrei do Delfim, ria muito quando o chamavam de mister 10%. Se empanturrava num restaurante de uma transversal em Copacabana (na época, US$ 500.00 uma refeiçãozinha simples, sem as bebidinhas), ele e os garotões bonitos que se passavam por guarda-costas, e berrava: otários, não é 10, é 20%!

Na época eu tinha uma paraibana, uma mineira e uma capixaba que moravam comigo na rua Sá Ferreira, uma via estreitinha com largas calçadas, e à noite a gente ficava tomando chope na frente de um buteco chamado La Gondola. Na calçada em frente, o "coronelzão" pançudo e seus meninos dê-lhe a entrar e sair daquele luxo, brincando de pegar ou algo que o valha, airosos.

Uma noite a cajazeirense Maria Dalva, tão bonita quanto arriada aquela paraíba, soltou um fiu-fiuuuuuuuuu a eles. O loirinho altão fez um biquinho de bravinho e virou a cara, o gordo ficou sério. Ralhei com ela no ato: "Pára, guria!, não se meta com esses viados! Estou desarmado". Mas essa é outra história.

O Chefe de Polícia Guardião Bandidão é outro que o trem não pega, quebra o sigilo de todo mundo e não perdoa, chantageia, manda matar, um abuso. Comigo mudou de idéia na primeira vez em que me visitou, ainda no vestíbulo da moradia, ao reconhecer o suarili Kafil, um dos meus seguranças de arremetida, com aquele punhal branco que o celebrizou na Tanzânia.


O banqueiro Daniel quis me assustar, dizendo que o Autoridade e o Chefe Guardião são amigos dele, e depois disso Mr. F. Febraban tentou até contato com os caras. Palhaço o Daniel, mente sem saber que lá ninguém tem amigos, como aqui, mas como já falei, lá não ter amigo é oficial, mentira não pode.

Mas há coisas interessantes. Estado civil é uma delas. Tem apenas três: solteiro(a), casado(a) e mal-casado(a). Se falar em desquitada(o), separada(o), divorciada(o), para eles é grego, ora, se está quites com o passado não tem compromisso, é todo mundo solteiro.

Nada do constrangimento de a moça ir comprar a crédito, loja cheia, e o Aprovador de Crédito Ladrão: estado civil? A moça balbuciante, afundando na cadeira, baixinho, um sopro: viúva... E ele, bem alto: ã, como? A senhora disse VIÚVA!?

Não mesmo, lá é solteirinha.

O mal-casado e a mal-casada já deves ter entendido. Imagine o Carmen's Club, um puteiro de primeira, caríssimo, que há na rua Olavo Bilac, bairro Azenha, em Campinas, sempre apinhado de políticos e grandes empresários, apenas voyeurs, of course, além de jogadores de futebol.



(Um esclarecimento: certa vez escrevi, pela experiência com a Polaca e congêneres, que o que diferencia os cabarés, de primeira até vigésima categoria, é a pintura, a mobília, as cortinas, as luzes, objetos caros, e o preço que cobra pela aparência. Antigamente até pela música, atualmente não, em todos a música é lixo igual. Assim, o que diferencia é o luxo e o preço, jamais as putas: puta é puta, seja de esquina ou de televisão. A empregadinha que passeia na Redença será sempre melhor. Fica claro então que é somente mais um puteirinho, sem encanto algum além da aparência, mas por esta uma infeliz custa aos garufas os olhos da cara. O esclarecimento é necessário para que a moçadinha não se iluda, não faço propaganda de lenocínio, ainda que no Burundi isso não seja crime, lá, não me canso de falar, não há hipocrisia, a polícia e a sociedade não precisam fazer vista grossa).

Mas imagine aí: todos lá bem belos e a Polícia Guardião Bandidão dá uma batida: Documas, todo mundo! E agora? Se na cédula de identidade constar "Casado", está frito, cadeia na hora, ou leva uma mordida de doer na alma, chantagem para o resto da vida. É proibido mentir, repito pela enésima vez, e na lei deles isso significaria estar mentindo para a esposa. Se ela o estiver acompanhando no cabaré, então tudo bem.


A brecha que os legisladores (os políticos... Ladrão!) encontraram, para dar uma burladinha na lei, foi essa do "mal-casado". Aí pode, os tiras até se compadecem, examinam o documento, devolvem com uma batidinha no ombro: vai firme, meu.

Sim, espertinho, claro que as mulheres também adoraram, acha que ficariam para trás? A seguinte na fila, lá na loja do Aprovador de Crédito Ladrão, ele diz: estado civil? Ela sorri, de esguelha olha queimando para a homarada no recinto, e diz para todo o prédio ouvir: MAL-CASADA!


No Burundi são raras as mulheres de políticos em cuja cédula de identidade não conste mal-casada. Na verdade são mal outra coisa, mas deixemos assim.

Graças a tua mensagem decidi escrever sobre todos os aspectos da região onde moro, ao concluir te enviarei um exemplar do livro.

Sim, sim, meu amigo, já vou dizer, imagine se eu, com minhas negras e alemoas, e com a rainha cigana Dolores, iria me prestar para amassar queijo. Eu fora, sei da existência do Carmen's Club por uma razão muito simples: informantes. Nesse caso em especial há outra razão: um primo-segundo do Juanito, do cartel dos eletrônicos, foi quem vendeu as câmeras de vídeo de alta definição que eles ocultaram em todas as dependências do prostíbulo. Filmam todo mundo, morremos de rir assistindo ricaços e boleiros se virando com as profissas. Dia virá em que serão devidamente extorquidos.

Sem querer lembrei de uma história de banco ladrão, esta é ótima: o extraordinário goleiro Manga, no tempo em que atuava no Botafogo... Epa, perdi a noção do tempo, Dolores me chama para jantar. É tarde.


Mande-me o telefone do Janjão Pernalta, última vez que eu soube andava por Itapecerica da Serra.

Abraços,
Salito

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