jueves, 26 de agosto de 2010

José

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Prezado José Serra


Pronto, pronto, pára de reclamar, aqui vai o teu bilhete.

Era para estar chegando em Montevideo ainda nesta madrugada, e dentro de alguns dias no Brasil, porém um imprevisto me faz voar para a Espanha, preciso ver Dolores.

Bem, na verdade eu não pretendia te enviar bilhete algum, confesso estar triste, de ti eu esperava uma contribuição maior para o nosso país, discutir a nação, sem hipocrisia, apesar das tuas companhias. Com um debate sincero, profundo, sobre todas as nossas mazelas, pouco importaria o vencedor da disputa, o País ganharia. Quando vocês vão falar diante de todos aquilo que falam no vão da escada, ou de cochichos nos ouvidos?

Com o que então, José, a assistência paga para assistir a uma briga de galos, e..., espera aí, galos é inviável, o bufão do Jânio criminalizou, e com esta imagem irias acabar apanhando de uma fêmea galiforme (penosa, Zé, sem nenhuma conotação machista nem pejorativa), que por si só não briga nem voa. Voar galo também não voa, sem que Mr. F. Febraban e seus sinistros amigos o joguem para cima no efêmero desequilíbrio de algumas voltas no ar. Mas pode brigar.

Vejamos outra... com o que então o distinto público paga para assistir a uma luta de boxe, o teu adversário falta ao combate (na verdade foi desclassificado e, em insano desejo das luzes do céu, quer habitar outros corpos para lutar), se transforma em um Don King às avessas e assume a condição de promotor da luta. Ato contínuo, o Iluminado precipita-se à rua vazia e pega a primeira gordinha que vê passar, logo providencia consertos na fisionomia, na musculatura (muito corta e espicha, mas é preciso, os fins justificam, fizeram o mesmo com ele), leva-a no cabeleireiro, nas lojas de caríssimas roupas e adereços, depois o dentista enche-lhe os dentes de capas alvíssimas, e na data aprazada lá está ela, sorriso luminoso, ainda sem saber o que dizer, sendo carregada para o ringue no colo do benfeitor que agora também habita a sua alma.

Você está me entendendo, José? Preste atenção.

Ocorre-me neste instante que a melhor imagem seria a de um circo, o espetáculo favorito do populacho. Sob o vídeo azulado ou sob a tenda de lona colorida, muita música, dança, teatro, figurinos, e no picadeiro principal malabaristas, bailarinos, equilibristas, ilusionistas e, como sempre, os animais amestrados, com tão repetitivas quanto antigas gingas, em troca de restos de comida alguns, da alma vendida pela ilusão da fama outros. No nosso circo, José, o povo está apinhado nas arquibancadas, espoliado, palhaço de perdidas ilusões no chão de falsas estrelas.

Abdico da imagem circense pela melancolia que me invade, José, este meu bilhete era para ser uma rápida tentativa de brincar mais uma vez com assunto sério, para não perder o juízo. Abdico, mas neste circo, José, o leão estaria à mercê de animais menos nobres, traído por gente daquela selva onde ele optou por viver, e onde sempre foi um estranho.

Como pôde ser atraído dessa forma, feito o boxeador que entra para ser nocauteado, como não percebestes isso já pela inexistência de prévias? Aqueles prédios da avenida Paulista te fascinaram tanto? Ao ponto de ser engolido pelo Iluminado travestido de antílope fêmea?

E agora se foi até a vergonha: os teus amigos colocando a imagem do invasor de corpos em teu programa de televisão! Isso é uma indignidade, cadê o amor próprio, o adversário é ele! Enfrente-o! É rinha, José, contra pseudos amigos e oponentes (o Iluminado sempre assumiu a condição de adversário, pelo menos até baixar as calças com o Meireles goela abaixo), precisa atacar, mostrar, para não morrer.

Nenhum gênio desses marqueteiros de vocês pode ser deixado a sós perto da carteira alheia, e menos ainda com poder de decisão sobre qualquer coisa. Eles não têm limites, é gente vil que vive de vender gato por lebre, são perigosos. E nenhum teve a idéia de falar em manter o ajutório família porém desonerando a cesta básica para todos, os malditos impostos indiretos? Esses gênios são gatos, José, gatos burros. E o que dizer de quem os contrata?

Tanto o Ciro quanto o Neves poderiam incendiar os céus do Brasil, mas, me questiono agora, será que o fariam?

Ora, tantos erros, tanta bandalheira, e ficas te reunindo com aluninhos e professorinhas, em vez de agitar o horizonte com a força dos atos, da coragem, da verdade.

A mentira vai continuar, José, ninguém com chances reais, nem você, ousa falar nos lucros dos bancos, das empreiteiras, do criminoso monopólio das comunicações. Como falar de quem paga a conta? O Iluminado agora elogia os lucros estratosféricos dos bancos... Essa conversa é velha, ele "amadureceu". Sei, desde a carta de Recife. Eu afirmo que envileceu.

Mas você teve a chance. Seu partido nasceu circunspecto, lembra? Depois, na ânsia dos vinte ou trinta anos no poder, além de se coligar com os múmios vocês começaram a abrigá-los como quadros partidários.

Se eu dissesse mude, José, reaja, livre-se dos faraós em ouro que te cercam, coloque fogo no circo, adiantaria? Não se dê ao trabalho de responder.

Dolores me espera com um copo de uísque e o Blue Tango na vitrola.
Abraço e boa sorte.
Salito

1 comentario:

  1. Olá.....Parabéns amigo !!!...........as vezes penso que sejas Mago, mas não !........és Sabio, entende ?

    Sabio no Coração ....um coração valente, iluminado, com bilhões de canais a verter verdades ......

    Te admiro e respeito,
    Vanda

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